O geólogo Rodrigo Del Olmo Sato conversou com o DC sobre o estudo que realizou sobre o terreno onde está sendo construído o Parque Shopping Criciúma. Disse que se baseou em imagens, em visitas ao local (garantiu que não entrou no terreno) e em outros documentos. O laudo produzido por ele foi entregue à Fundação do Meio Ambiente de Criciúma e está em análise pelo órgão municipal.
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:::Novo Laudo que indica presença de nascente em terreno está sob análise
:::Fundação do Meio Ambiente de Criciúma não descarta pedir terceiro estudo
Diário Catarinense – Como foi o trabalho de campo feito pelo senhor para o laudo?
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Rodrigo Del Olmo Sato – Foi feito pelo entorno da área porque ela é privada e não podemos entrar. Fomos à estrada limite em questão. Caminhando ali deu para ver que havia escavações, não sei se feitas pela municipalidade ou iniciativa privada, que são trincheiras com intuito de estudar o perfil do solo, num momento em que iriam fazer encanamento. Seria uma tubulação para o acúmulo de água. Dá para ver um solo de coloração escura formado em ambiente em muita saturação de água, o hidromórfico.
DC – É uma nascente ou não, o que o senhor constatou?
Sato – É nascente, exatamente. Existe um trabalho feito na região, o Projeto Nascentes, que identifica nascente um pouco abaixo da casa onde está feito a escavação na frente. Indica que lá é a nascente. Na verdade, a locação da nascente foi feita mais para cima. A vegetação naquele ponto, pelas imagens aéreas, é muito tensa. Se olhar no Google você vai ver que o único ponto do terreno que nunca havia sido cortado antes me parece que é um pasto antes. Na hora que a empresa cortou a vegetação e escavou ali acabou mostrando um solo que você vê escuro e de zona úmida.
DC – Na prática, o que leva o senhor a concluir que há nascente é o solo escuro e o acúmulo de água?
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Sato – Sim. É um tipo de solo que só é formado em ambiente de grande saturação de água, a própria condição geomorfológica. A área do empreendimento é um morrotinho assim. Se você pegar um baldinho e empinar areia vai formar um cone. Se você pegar uma mangueira de água e devagarzinho colocar em cima do monte e abrir a torneira, assim que a água começar a bater na areia ela vai escavar uma canaleta e vai ficar um cone com uma canaleta. Se olhar nas imagens vai ver exatamente isso.
DC – Existe alguma possibilidade de esse acúmulo de água ser da chuva? Sato – Não porque ali se formou um talvegue, um caminho para escorrer a água. E mesmo a água da chuva passaria por ali. Em áreas onde só tem a passagem da água da chuva não existe tempo suficiente para formação desse tipo de solo.
DC – Esse estudo foi feito em período de seca?
Sato – Em duas etapas de campo, uma de seis dias de tempo bom e a outra em que tinha um pouco de chuva. DC – O que pode acontecer se houver construção em cima de nascente?
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Sato – Primeiro que toda nascente é protegida, porque ela origina um curso d’água, que alimenta os rios. Se toda área de nascente começar a ser ocupada, a água para de correr porque as áreas de recargas dessas nascentes se tornam impermeabilizadas e ela procura outro caminho para correr e para de nascer. Aí começam a secar essas nascentes e a prejudicar os recursos hídricos.
DC – Qual a distância limite para se construir perto de nascente?
Sato – É num raio de 50 metros no entorno.
DC – Há disputa entre shoppings em Criciúma. O seu laudo vem trazendo nova informação de que há nascente. Há algum receio que o seu estudo seja colocado em xeque?
Sato – Não, porque sou um profissional muito conceituado dentro da minha área. Se alguém tivesse me contratado para forjar um parecer eu jamais aceitaria. Sou pessoa que fiz parte do conselho de ética do Crea e brigo para isso. Eu me atenho a fatos, não importa quem seja o contratante.
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