O MDB de SC chega ao dia da convenção do mesmo modo que passou o último ano sempre que o assunto foi o rumo do partido nas eleições 2022: dividido. A reunião do partido neste sábado (23) promete dar um capítulo final à novela que se tornou a definição de uma candidatura ao governo de SC ou o apoio a outros partidos.

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Veja pré-candidatos ao governo de Santa Catarina em 2022

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Duas teses que chegam à convenção e serão colocadas para a escolha dos 541 delegados com direito a voto no partido em SC. Uma delas é a candidatura própria do partido, com o empresário e ex-prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli. A outra é um apoio ao atual governador Carlos Moisés, que irá buscar a reeleição pelo Republicanos. Nesse caso, caberia ao MDB a indicação para a vaga ao Senado e a vice, que já tem nome escolhido: o também empresário e ex-prefeito de Joinville, Udo Döhler.

A indefinição na legenda é acompanhada de perto por interferir diretamente na candidatura do atual governador e também por conta das dimensões do partido. O MDB tem o maior número de filiados no Estado, com mais de 186 mil membros. Com a figura do ex-governador Luiz Henrique da Silveira, foi o artífice da chamada tríplice aliança, união do partido com o PSD e o PSDB que manteve o grupo no poder em SC por 12 anos, de 2007 a 2018. Em municípios menores no interior de SC, costuma rivalizar com o Progressistas as disputas pelas prefeituras, com eleitores que se dividem entre o “11” e o “15”.

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Após a dissolução da tríplice aliança, sacramentada de vez na eleição de 2018, o MDB vive situação diferente para 2022. O partido até aqui está muito mais ocupado em resolver seus desenlaces internos do que em repetir alguma aliança ampla com os maiores partidos.

A divisão interna que só chegará ao fim no limite do prazo eleitoral tem de um lado Antídio Lunelli, que reivindica o direito à candidatura após ter sido proclamado como pré-candidato pelo partido em fevereiro. Dário Berger, que rivalizava com Antídio em busca da indicação nas prévias, deixou o MDB, enquanto Valdir Cobalchini e Celso Maldaner retiraram as intenções de candidatura, deixando o caminho livre para o ex-prefeito de Jaraguá do Sul.

Mas a disputa interna vivida pelos emedebistas foi além desses nomes e do período de prévias. O partido se aproximou do governo Moisés na segunda fase do mandato, após os processos de impeachment e o rearranjo político aberto pelo governador. Chegou a indicar o deputado Luiz Fernando Vampiro para chefiar a Secretaria de Educação.

Nesse contexto, uma ala do partido passou a defender, primeiro, a filiação de Carlos Moisés, e depois, o apoio do MDB à candidatura do governador, após a filiação dele ao Republicanos. Deputados estaduais e prefeitos se fizeram fotografados em encontros e declarações de apoio à reeleição do ex-governador. A liberação de recursos para os municípios por meio de ações como o Plano 1000 só ajudou a inflamar ainda mais prefeitos e defensores do apoio.

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Com o partido em busca de um consenso, Antídio fez um aceno e disse aceitar a vaga de vice em chapa encabeçada por Moisés. Mas dias depois o governador rejeitou a possibilidade, e Antídio prontamente retomou a cruzada para ter sua candidatura confirmada.

Foi somente nas últimas três semanas que o partido pareceu aceitar a divisão e levar os dois caminhos para decidir o futuro na convenção. Para levar uma alternativa concreta, o nome de Udo Döhler foi indicado como vice na chapa de Moisés — desta vez aprovado previamente pelo governador, com direito até a foto lado a lado na reunião.

O desfecho da trama que envolveu a definição da candidatura do MDB em SC tende a ocorrer neste sábado — se o resultado não for judicializado. Com Antídio ou ao lado de Moisés, o MDB sairá da convenção com a missão de superar as diferenças para estar unido na campanha eleitoral, que começa em apenas três semanas. Um desafio até mesmo para quem articulou as amplas alianças que chegaram ao poder no Estado em quatro das últimas cinco eleições.

Direção do partido crê em pacificação

O presidente em exercício do MDB em SC, Edinho Bez, reconhece que o momento no partido é outro. Para ele, os motivos são a perda de Luiz Henrique, maior liderança do partido, e o fato de não ter sido governo no último mandato — o apoio a Moisés foi um movimento apenas dos deputados, segundo o dirigente.

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Bez valoriza a convenção como instrumento de escolha e acredita que ela não deve deixar cicatrizes ou divisões até as eleições. Para ele, a situação deve ser pacificada em até 15 dias.

O presidente diz que a partir de segunda-feira passará a conversar com outros partidos e dá a senha de quem espera que a convenção ponha fim ao impasse no partido:

— Somos democratas. Quem é democrata respeita o resultado da maioria. Quem não respeita, não é democrata.

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Os argumentos dos dois grupos do MDB

A aproximação do governo com prefeitos e com a Assembleia Legislativa é uma das defesas de quem deseja a coligação. O deputado Valdir Cobalchini, líder do MDB na Alesc, é um dos defensores do apoio do partido à candidatura do atual governador. O parlamentar faz elogios ao governo Moisés ao destacar o “municipalismo” e dizer que a gestão faz “muito daquilo que o partido defende”. Ele evita comentar a proposta de Antídio, mas considera que uma composição é “importantíssima”.

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— Para o MDB, embora seja o maior partido, não é viável a candidatura em chapa pura. Vejo que é necessário construir coligação. Me parece que aí está a principal questão — apontou.

É justamente no tamanho do partido que a ala do partido que defende a candidatura própria de Antídio Lunelli se baseia. O deputado federal Carlos Chiodini elogia o perfil de “empresário-político” de Antídio e diz que ele pode construir uma candidatura viável em uma eleição que segundo ele não deve ter grandes coligações.

— Sinto que as pessoas querem que o MDB apresente uma proposta para Santa Catarina. Isso não quer dizer que eu tenha ressalva particular com o governador Moisés, não é isso. A eleição é feita justamente para termos essa multiplicidade de opiniões e propostas — defende.

“Projeto eleitoreiro” e “aventura”: o que dizem Antídio e Udo

Os nomes que protagonizam a disputa do MDB neste sábado abrem artilharia à medida que a convenção se aproxima. Ex-prefeitos das duas maiores cidades do Norte de SC, Antídio e Udo agora demarcam o distanciamento.

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Em manifestação enviada pela assessoria, Antídio Lunelli diz que o partido vai escolher entre “honrar sua história” ou “sucumbir ao fisiologismo e aos interesses de grupos pequenos”. Também foi direto e reto nas críticas ao possível apoio a Moisés.

— Minha candidatura representa a renovação, um novo olhar sobre a gestão pública. Uma proposta de colocar as pessoas em primeiro lugar, melhorar os serviços públicos e administrar com planejamento. Diferente desse projeto eleitoreiro que aí está. Vamos vencer a convenção e depois vamos unir MDB — afirmou.

O mesmo tom passou a ser usado por Udo Döhler. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o ex-prefeito definiu que o partido vai escolher entre “apoiar um projeto vencedor”, no caso, o de Moisés, ou “correr um grande risco em mais uma aventura eleitoral”, como classificou a possível candidatura de Lunelli.

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