Não é raro um instrumento tornar-se conhecido por conta do músico que o utiliza. Mas há apenas um caso em que toda a sorte da fábrica de equipamentos musicais mudou por causa de um só artista. A empresa é a alemã Höfner, e o instrumento, o contrabaixo modelo 500/1 Violin Bass.
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Será este o contrabaixo que Paul utilizará no palco do Estádio da Ressacada, no dia 25 de abril, data do histórico show em Florianópolis – a maior apresentação musical da história de Santa Catarina.
A lenda, contada de beatlemaníaco para beatlemaníaco, é bem conhecida. Em 1961, Stu Sutcliffe deixou os Beatles, e o então guitarrista da banda, McCartney, passou a contragosto da guitarra para o baixo.
Ele foi a uma loja de instrumentos de Hamburgo, a Steinway Musichaus, onde encontrou um pequeno instrumento que era barato – o preço era menos da metade dos Fender, por exemplo – e poderia ter o encordoamento invertido para ser tocado por um canhoto. O formato de violino era simétrico dos dois lados, ao contrário do design da maioria dos modelos.
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Em 1963, a fábrica alemã deu um novo instrumento a Paul, feito sob encomenda e para canhotos. Esse segundo foi o modelo que tornou-se tradicional. O músico não tocava apenas com ele – também usou produtos Fender e Rickenbacker em gravações e shows da carreira solo e dos Wings. Voltou para valer com o Hofner em 1989, quando preparava o disco Flowers in the Dirt. Foi com a turnê desse disco, aliás, que o beatle passou pela primeira vez no Brasil.
O curioso é que o Höfner não é uma unanimidade entre os músicos. Ele é miúdo, tem um braço fino e menor. É leve, o que nem sempre agrada os baixistas. Seu timbre não funciona para todo estilo musical.
– Ele tem as suas particularidades. Não é um instrumento versátil, tem um som muito característico dos anos 1960 – explica o músico Eduardo Wagner, baixista do Quarteto Banho de Lua, que há dois anos é proprietário de um Violin Bass.
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– Cresci ouvindo Beatles e sempre tive a vontade de comprar um Höfner. Tem um valor sentimental – diz.
Iguais ao do ídolo
O engenheiro eletricista Enio Schlemper Junior, 57 anos, guarda muita coisa do tempo em que começou na música. Seu baixo Höfner continua na ativa e está em ótimo estado de conservação.
– Não achei a nota fiscal, mas tenho algumas referencias de que comprei entre final de 1973 e início de 1974 – explica Enio, que é baixista da banda Immigrant.
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A pista é uma foto tirada em 1974 no rancho atrás da casa dos pais de Enio, no qual seu “conjunto” (era como se chamavam as bandas de rock na época), o lendário A Comunidade, ensaiava. O hard rock dos anos 1970 (Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath) era o estilo do grupo, mas a influência dos Beatles continuava muito forte.
– Foi em função desta influência, principalmente visual, que adquiri o famoso Höfner na loja Leimar Musical, em São Paulo. Até hoje não me conformo com uma plaquinha de metal que eles colaram e parafusaram atrás do headstock (cabeça) do baixo – diz Enio, lamentando o “sacrilégio”.

– É tudo igual, é até oco como o original. Há muitas réplicas que não são – destaca.
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Ele só lamenta que o escudo de madrepérola tenha voado longe, quando um amigo prendeu a pulseira no acessório.
– Bom, meu baixo tá pelado até hoje. Diz ele que ficou melhor, mais bonito. E eu acredito, para manter a amizade – brinca Pascale.