_ Eu quero tirar bebês. Era a resposta da menina quando alguém perguntava o que você vai ser quando crescer. Essa conexão com nascimentos, recém-nascidos e mulheres grávidas a acompanha desde o berço e se deve em grande parte aos relatos de partos como experiências maravilhosas da mãe, que teve cinco filhas de forma natural.

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E a história do próprio parto fez nascer uma jovem com a alma das parteiras de antigamente. Ela deixou o útero e foi direto para o colo da mãe, na casa da família, num sítio em Gravatal, no Sul de Santa Catarina. O pai só cortou o cordão umbilical depois de ter a certeza de que ele não pulsava mais. Uma das avós fotografava o momento, enquanto a outra apoiava as costas da filha.
As fotos e os relatos daquele 4 de novembro de 1986 ouvidos ao longo da infância a encantaram a ponto de influenciar sua escolha profissional. Hoje Mayra Calvette, que neste domingo apresenta o último episódio de Parto pelo Mundo, no canal pago GNT, é uma das poucas enfermeiras obstetras que atuam em Florianópolis.
Mayra não tem filhos, mas, apesar da pouca idade, já ajudou muitas mulheres a terem seus bebês com parto natural, em casa, na água. Como nos dois partos da amiga famosa Gisele Bündchen.
Há nove anos, Mayra deixou Gravatal para estudar Enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), depois se especializou em Obstetrícia e Neonatal. Trabalhou durante um ano na Maternidade Carmela Dutra, na Capital.
_ Eu tive a sorte de vir ao mundo num ambiente seguro, em um parto domiciliar planejado. Era uma época que o movimento pelo parto humanizado estava começando. Quando entrei no hospital, pude vivenciar o outro lado, com mulheres desinformadas e submetidas a intervenções desnecessárias – conta a dona de uma beleza miscigenada.
Atuando desde 2007, Mayra defende os benefícios de parir em casa, mas batalha também para propiciar às gestantes um parto natural no hospital. Não é o comum. Se depender das maternidades e hospitais, fica difícil escapar de cesáreas desnecessárias e intervenções no parto normal.
O nascimento dela e das quatro irmãs, Luara, Tainá, Raíssa e Tui, é o modelo que caracteriza o parto humanizado, aquele em que são respeitadas as escolhas da grávida. E a mãe das meninas optou por ter três delas em casa e duas no hospital (a segunda e a última).
_ Ela já tinha quatro filhas. Imagina parir com quatro crianças ao redor. Na quinta vez, foi para o hospital pela facilidade, porque o parto em casa é uma função – explica Mayra, a filha do meio da enfermeira Mônica e do médico Gefferson Calvette.
Ainda uma ideia vaga para a maioria das pessoas, parto humanizado faz parte da vida de Mayra desde sempre. E as profissões de seus pais foram determinantes para passarem uma imagem positiva do nascimento para as filhas. Eles não queriam ter bebês da forma que viam acontecer no dia a dia hospitalar, num processo medicalizado e intervencionista.

Tainá também nasceu no hospital porque a família acabara de se mudar de Porto Alegre para Gravatal, onde não há hospital. E o parto domiciliar é feito com o suporte emergencial de uma estrutura hospitalar próxima da casa da gestante.

_ Então eles foram para uma cidade vizinha, onde seriam atendidos por uma médica com a qual haviam criado um vínculo e respeitaria o parto que minha mãe queria ter (cortar o cordão umbilical só depois de parar de pulsar) _ lembra Mayra, entre uma cuia de chimarrão e outra.

Ela explica que, com o cordão umbilical pulsando, o bebê recebe sangue e oxigênio da mãe, prevenindo anemia. E o bebê começa a respirar quando o cordão para de pulsar, sem precisar chorar. Já a casa é um ambiente acolhedor para o parto:

_ A mulher precisa se sentir segura para liberar o coquetel de hormônios que viabilizam o parto. E são esses hormônios do amor que vão gerar no bebê a capacidade de amar.

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