Embora Mauro Borghezan tenha começado a tocar bateria e percussão por causa do rock, foi no jazz que ele encontrou a liberdade para explorar todas as possibilidades que esses instrumentos permitem. O músico é hoje um dos principais nomes da cena instrumental de Santa Catarina, estado que é berço de talentos como Alegre Corrêa, Guinha Ramires, Felipe Coelho, Rafael Calegari e Tiê Pereira.
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Com formação em música pela Udesc, Borghezan atua desde 2004 e transita por vários estilos, principalmente música instrumental brasileira, centro-americana, sul-americana e jazz. O músico também toca em diferentes projetos e formações – e por isso é comum vê-lo tocar nas principais casas de jazz da cidade ou em projetos que ajudam a formar plateia, como o Hoje é Dia de Jazz Bebê, pensado para crianças.
Ao lado do baixista Tiê Pereira, Mauro também assina a curadoria do Sexta Jazz AF, realizado desde 2014 e considerado um dos principais projetos de jazz e música instrumental da cidade. A última edição da temporada 2021 será realizada nesta sexta-feira (26), às 20h, com o Especial Herbie Hancock. A entrada é gratuita, exclusiva para pessoas com vacinação completa contra a Covid-19, e por ordem de chegada, a partir das 19h. O show também será transmitido ao vivo pelo canal da AF Florianópolis no YouTube.
Na entrevista, Mauro Borghezan fala sobre seus primeiros contatos com a bateria e a percussão, sua principais referências e, claro, sobre jazz. Confira!
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Como foi seu primeiro contato com a música?
O primeiro contato para valer mesmo com a música foi andando de skate. Quando eu tinha uns 16, 17 anos, andava com o pessoal da rua. Um amigo sempre andava e usava fone de ouvido – era ainda a época do walkman. Um dia perguntei a razão de ouvir música enquanto andava de skate e ele explicou que dava uma adrenalina. Pedi então para experimentar, e meu amigo estava ouvindo um disco do Metallica. Ouvi o som e fiquei obcecado com aquilo. A partir daí, comecei a me interessar e fui ouvir outros discos do Metallica, depois comecei escutar outros sons.
Como a bateria e a percussão surgiram no seu processo de se tornar músico? O que te encanta nesses instrumentos?
Eu me tornei músico por causa da bateria e da percussão. Depois que comecei a escutar música, tive interesse também em tocar bateria. Não sei a razão, mas me veio na cabeça que queria tocar bateria. Fui então fazer aulas na tradicional Nelson Musical Center, no Estreito, em Florianópolis, e desde a primeira aula fiquei fascinado. Quando sentei para tocar pela primeira vez, aquilo me fascinou. Meu primeiro professor foi o Sebastião Gomes, que é meu mestre.
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O que me encanta nesse instrumento é a forma de transmitir energia, colocar vibração e energia muito forte por meio desses sons. E colocar isso em linguagem musical me encanta. Quanto mais escuto, mais descubro possibilidades de timbres, possibilidades de combinações. Isso me leva a querer mais, cavar mais fundo. É energia criativa o tempo todo.
Ao longo da sua trajetória, quem foram seus principais mestres e referências?
Eu comecei tocando rock; muitas das minhas referências e mestres foram bateristas de rock. O baterista do Metallica, Lars Ulrich, e de outros grupos de rock progressivo, como Rush. Por causa do rock progressivo, eu comecei a ter um pouco de contato também com jazz. E aí comecei a escutar alguns bateristas de jazz mais atuais, como Dave Weckl, Vinnie Colaiuta… A partir deles fui pesquisar músicos mais antigos. Fui conhecer Buddy Rich, que mudou minha vida – ele muda a vida de todos bateristas que se deparam com o trabalho dele. Jo Jones, Gene Krupa, Tony Williams, músicos que mudaram a forma de tocar bateria no jazz.
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Logo depois, comecei a escutar música brasileira, e aí entra o Toucinho, que é uma lenda. O Endrigo Bettega, de Curitiba, e outros brasileiros, como Pascoal Meirelles, do Cama de Gato; Carlos Bala, que tocava com Djavan; o Milton Banana, do pessoal do samba jazz. E depois comecei a escutar muita música centroamericana. Fiquei fissurado pelo percussionista cubano Horacio “El Negro” Hernandez e pelo mexicano Antonio Sánchez, músico fenomenal que transita entre linguagems distintas.
Você é muito reconhecido pela atuação com o jazz. Esse é seu estilo favorito?
O jazz é onde me encontrei tocando bateria. No jazz, o baterista tem uma liberdade muito grande; em nenhum outro estilo o baterista encontra isso. Isso porque em outros estilos a função rítmica está muito centrada no baterista e no percussionista, então você é obrigado a ficar repetindo padrões, ou seja, tem obrigações rítmicas que, se deixa de tocar, está descaracterizando o estilo. E no jazz essa responsabilidade fica em cima do baixista. No jazz o baterista tem liberdade para ser criativo, dialogar com outros instrumentistas, provocar, responder, apoiar, criar contrastes.
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Projetos como o Sexta Jazz AF e o Hoje é Dia de Jazz Bebê são superimportantes para a cidade, porque têm uma função legal de formação de público. Além disso, geram uma certa influência nos músicos locais. Muita gente surgiu querendo tocar jazz comigo porque me viu tocando nesses eventos. E aí acabamos passando para frente o resultado do estudo que fizemos durante toda a vida.
De que forma você acha que o jazz segue sendo contemporâneo?
O jazz segue contemporâneo porque vai sendo misturado com outros estilos. O jazz está sempre sendo mesclado com outros estilos, como antigamente com o samba, com a música cubana e a indiana. Está sempre em processo de transformação e sempre se mantendo contemporâneo por meio dessas fusões.
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Santa Catarina é um estado reconhecido por ser berço de importantes eventos e nomes da cena instrumental no Brasil. Qual a sua leitura da cena, atualmente, depois de quase dois anos de pandemia?
A cena do jazz sobreviveu nesses últimos dois anos em Florianópolis. Depois de setembro de 2020 as regras foram se flexibilizando e o jazz voltou com a mesma dinâmica. Mostrou que é bem quisto e aceito na cidade. Voltou com vigor em 2021; as pessoas gostam, e quem nunca ouviu sempre se surpreende quando escuta jazz pela primeira vez.
Sexta Jazz AF apresenta ‘Especial Herbie Hancock’
Sexta-feira (26), às 20h
Piso G3 do Villa Romana Shopping (Av. Me. Benvenuta, 687 – Santa Mônica, Florianópolis). O show será também transmitido ao vivo pelo canal da AF Florianópolis no YouTube
Evento gratuito. O acesso é por ordem de chegada, a partir das 19h
Para entrar, é necessário inscrição prévia no site da Aliança Francesa de Florianópolis, bem como a comprovação de vacinação completa contra a Covid-19 para adultos (acima de 18 anos). Adolescentes (12-17 anos) poderão acessar o evento com apenas uma dose. Não serão aceitos testes. As vagas são limitadas para respeitar o distanciamento social, e o uso de máscara é obrigatório
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*entrevista por Carol Macário
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