Do alto dos seus 20 e bem poucos anos, o brusquense Matheus Rheine é uma das estrelas da nova geração da natação paralímpica brasileira. O currículo cheio de medalhas o credencia para este posto. Ele tem hoje o segundo melhor tempo do mundo na prova que compete e é o primeiro brasileiro a nadar 100 metros em menos de um minuto na sua categoria. Ah, ele também é cego.
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::: Foco de Matheus Rheine no Parapan de Toronto é em busca de melhores marcas
As duas melhores marcas foram conquistadas no último Mundial de Natação Paralímpico, disputado neste mês em Glasgow, na Escócia, onde Matheus contabilizou mais duas pratas para sua coleção, nos 100 metros e nos 400 metros livre. Nadador da categoria S11 – totalmente cego -, ele ficou atrás apenas do norte-americano Bradley Snyder, um ex-soldado que perdeu a visão depois de um acidente com bomba no Afeganistão. Ele é o homem a ser batido no Parapan-Americano de Toronto, que Matheus disputa em agosto, e também nos Jogos Paralímpicos do Rio, em 2016.
Matheus carrega a deficiência desde o berço. Nascido prematuro, a cegueira foi causada pelo excesso de oxigênio que ele recebeu enquanto estava na incubadora. Mas a realidade é que a falta de visão nunca limitou suas ações. A natação surgiu como atividade recomendada pelos médicos para fortalecer os pulmões, que sofriam com bronquite. E aos três anos ele pulou na piscina. Hoje, aos 22 anos, a recente história já é uma trajetória vitoriosa baseada em foco e dedicação:
– Para mim, nadar não tem nada de extraordinário, de superação… Quando as pessoas falam “nossa, mas você nada?” é como perguntar “ah, você fala?”. Claro que ninguém é obrigado a saber como o cego faz as coisas. Não só com o cego, mas todas as deficiências. Porque eu acho que todo mundo pode se inserir na sociedade. De uma forma ou de outra, pode buscar isso.
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Primeira competição serviu de alerta
Até a adolescência a natação não passava de uma atividade física comum para Matheus. Algumas horinhas por semana eram suficientes para manter o bom funcionamento dos pulmões e ele não pensava em fazer do nado uma opção para a vida. Dividia o tempo entre a escola, a piscina, os games e tudo o que faz parte da vida de um adolescente. Em 2007 participou de sua primeira grande competição e o resultado surpreendeu até o próprio garoto: três medalhas de ouro nas Paralimpíadas Escolares, em Brasília.
– Foi ali que descobri que dava pra extrair mais. E aí o esporte me trouxe a vida! Antes estudava, era tranquilo, mas acho que qualquer pessoa tem a oportunidade de ser mais, de fazer uma história. A vida tá aí pra isso! Independente de ser no esporte ou em qualquer área, mas essa é a que descobri, que amo mesmo, e hoje a dedicação é 100%.
A partir de 2007 o foco das aulas de natação mudou: viraram treinos. Ainda três vezes por semana e dividindo espaço com a escola. Dois anos depois Matheus disputou o primeiro Campeonato Mundial – ainda na categoria Juvenil – já representando o Brasil.
Viajou para os Estados Unidos e ficou maravilhado com tudo que o esporte já dava para ele. Em 2010, então como promessa da natação paralímpica, bateu o primeiro recorde na sua prova preferida, os 400 metros estilo livre e, logo após a formatura do Ensino Médio, decidiu que ser atleta era o que queria fazer da vida. A essa decisão já se seguiram uma série de medalhas em mundiais, torneios abertos, um parapan-americano e uma disputa em paralimpíada.
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Principais conquistas de Matheus
2007
– Jogos Abertos Paralímpicos de Santa Catarina (Parajasc)
Três medalhas de ouro
2008
– Paralimpíadas Escolares – Brasília
Três medalhas de ouro
2009
– Circuito Brasil Loterias Caixa de Natação
Três medalhas de ouro – nas provas de 50, 100 e 400 metros livre
– Jogos Mundiais para Jovens (até 19 anos) – Estados Unidos
Quatro medalhas de prata
2011
– Parapan-Americano de Guadalajara (México)
Medalha de prata – 50 metros livre
2012
– Jogos Paralímpicos de Londres (Inglaterra)
6º lugar – 400 metros livre
9º lugar – 100 metros livre
10º lugar – 50 metros livre
2013
– Mundial de Natação Paralímpica – Montreal (Canadá)
Medalha de prata – 400 metros livre
Medalha de bronze – 100 metros livre
2014
– Parapan Pacífico – Califórnia (Estados Unidos)
Medalha de prata – 400 metros livre
Medalha de prata – 100 metros livre
Medalha de bronze – 50 metros livre
2015
– Mundial de Natação Paralímpica – Glasgow (Escócia)
Medalha de prata – 400 metros livre
Medalha de prata – 100 metros livre