Resolvi fazer uma limpa nos meus alfarrábios, fotos e tudo mais que não me diz mais nada, e não vai dizer a mais ninguém no futuro. Rasguei fotos que só a mim interessaram, rascunhos de textos que já foram escritos, cartões de Natal, coisas assim que a gente guarda, porque tiveram significado um dia.E achei no meio de uma pasta uns versos de Mário Quintana, “O Laço e o Abraço”, em que ele compara um laço de fita a um abraço. Coisas do Quintana, que sempre gostei de ler e reler.

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É que sou chegadinha em abraços. Já fiz uma crônica, anos atrás, sobre o assunto e foi muito bem aceita pelos leitores na ocasião. Mas continuo sendo carente de abraços, nunca são suficientes os que recebo. Quem não gosta de um bem apertado, ou outro bem macio com uma esfregadinha de mão nas costas? Já no útero, os bebês gostam quando as mães abraçam a barriga, e depois que nascem, precisam dele para se acalmarem, para dormirem. Nem vou falar dos namorados, porque os namoros estão diferentes a esta altura da vida, em que o celular serve para troca de carinhos e confissões de amor.

Tem uma frase na poesia do Quintana que me enternece: “É assim que é o abraço: coração com coração, tudo cercado de braço. É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço.” E pensando nos abraços que recebi nesta longa vida, e nos que ainda estou esperando, resolvi mandar meu recado em versos, sem ser retensiosa:

“Envelheci esperando, tanto tempo que nem sei

Se é o tempo que foi passando, ou se fui eu que passei.

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Agora, não tem mais volta, deixei o tempo passar

Nem sei o que esperava, só sei que não vai chegar.”

E o poeta termina assim, ainda na comparação de abraço e laço: “Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.”

Se alguém gostou, se chegue e me dê um abraço. Para isto é que servem os braços.