As conversas reveladas na investigação da Operação Presságio, que apura supostas fraudes em contratos de coleta de lixo, eventos esportivos e pagamentos a organizações e projetos sociais de Florianópolis, ajudaram a equipe da Polícia Civil a explicar como funcionaria o suposto esquema de corrupção investigado. O ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte, Ed Pereira, e outras três pessoas ligadas a ele foram presas preventivamente na semana passada.

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Além de revelar supostas conversas entre os investigados mantidas por áudios e textos em aplicativos de mensagens, a investigação também apontou alguns códigos usados pelos suspeitos para se referirem aos recursos que segundo os investigadores eram desviados das organizações sociais para beneficiar o grupo ligado ao ex-secretário Ed Pereira.

Na maior parte das conversas identificadas pela investigação, os alvos não utilizam códigos para disfarçar o suposto esquema de desvio de recursos destinados a eventos e projetos sociais. É assim, por exemplo, nas conversas em que o ex-assessor de Pereira, Renê Raul Justino, apontado como braço direito do ex-secretário, admite o uso de cadastros de Microempreendedor Individual (MEI) e até mesmo uma busca por laranjas para emissão de notas fiscais que mais tarde seriam beneficiadas com recursos públicos destinados aos projetos. Um dos trechos citados no inquérito mostra o perfil das mensagens:

“Cara, já pega todo mundo que é MEI, e quem não for MEI vai ter que ser, senão a gente vai ter que achar uns laranja aí (…). Todo mundo em MEI, vamos ter isso bonitinho quatro meses já resolve nossa vida, quatro meses já limpa o dinheiro que a gente precisa.”

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No entanto, em alguns contatos os investigados preferem utilizar códigos para se referir às práticas que, segundo a Polícia Civil, ocorriam para operar o desvio de recursos. Confira abaixo:

Biquínis

Em uma conversa de dezembro de 2022, uma interlocutora identificada pela investigação como Vanessa troca mensagens com Renê. Ela afirma que precisava visitá-lo em uma loja “pra escolher os biquínis”. Para os investigadores, ela estaria se referindo a dinheiro, mas o ex-assessor de Ed Pereira teria demorado a entender o código.

Na mensagem seguinte, Renê pergunta se a interlocutora havia chegado a fazer “os 2.k referente a novembro”, ao que Vanessa respondeu em texto: “mas é disso q to falando inferno”.

Marreta

Outro termo que aparece no inquérito é “Marreta”, que segundo os investigadores seria a alcunha de um homem que executa tarefas de reforma de construção particular para o ex-secretário Ed Pereira. Segundo a Polícia Civil, o profissional seria remunerado com recurso desviado dos projetos sociais.

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O nome aparece em uma lista com outros sete nomes ao lado de valores. Conforme a investigação, em vez de transferir ou sacar recursos que recebeu pela emissão de notas frias, um dos laranjas usados pelo grupo faria pagamentos de compromissos particulares de Ed Pereira.

“Negócio lá”

Outra situação em que os investigados tentam falar por códigos é em uma troca de mensagens entre Renê e Lucas Rosa Fagundes, ex-comissionado da Secretaria comandada por Ed Pereira, em dezembro de 2022.

Na conversa, Renê pergunta se Lucas conhecia alguém que poderia “tirar nota” de R$ 1,5 mil, para alguma entidade beneficiada por recursos da Secretaria. Após Lucas dizer que pode emitir a nota, ele pergunta se é para mandar de volta para ele “assim que cair”, o que é confirmado por Renê.

Dois dias depois, Renê pede o PIX de Lucas, que responde com o número do seu CPF e a pergunta: “é o negócio lá?”. Renê responde com o nome da entidade para a qual Lucas havia emitido a nota fiscal fria. Na mesma data, Lucas envia um comprovante de Pix no valor de R$ 3 mil para Renê, que segundo os investigadores seriam referentes ao valor das duas notas fiscais emitidas por ele.

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Veja imagens da primeira fase da Operação Presságio, de janeiro

Contrapontos

O advogado de Ed Pereira, Claudio Gastão da Rosa Filho, afirmou ainda na quinta-feira que seguia estudando o inquérito e que “todas as medidas legais serão tomadas no momento oportuno”.

A advogada de Lucas Fagundes, Zenilda Edwirgen Cardoso, também apontou que está analisando o conteúdo dos autos e que no momento não tem nada a declarar.

O advogado Francisco Ferreira, que representa as defesas de Renê Raul Justino e de Cleber José Ferreira, afirmou que iria entrar com pedido de habeas corpus na segunda-feira (3) para tentar a revogação das prisões preventivas.

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