– A arte é algo que te envolve, independente da área. É algo em que você sempre pode se entregar.
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A frase para começar a falar da dona da loja de música mais antiga da cidade e de uma amante das manifestações artísticas não poderia ser outra. Marli da Silva Avancini, 57 anos, se enche de entusiasmo para falar sobre qualquer assunto referente ao que, dizem, faz bem pra alma e pro coração.
Filha de um dos mais reconhecidos artistas joinvilenses, o escultor Mário Avancini, não podia ser diferente. Quando pequena, acompanhada dos seis irmãos, sentava no banquinho de casa e via a pedra se transformar em escultura pelas mãos paternas.
– As conversas que tínhamos com meu pai eram sempre sobre arte, era nossa maneira de aproximação – comenta sobre a inspiração que veio de casa.
O meio artístico em que sempre esteve inserida contribuiu para que Marli escolhesse a música como forma de trabalho. A Discolândia, a mais tradicional loja de discos de Joinville, é comandada por ela desde fevereiro de 1969.
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Junto com o marido Alexandre, montou os corredores apertados do pequeno ponto na rua 15 de Novembro ainda com discos de vinil. Apenas a realização de um sonho, já que, desde a infância, Marli era uma curiosa do mundo musical.
– Qualquer coisa que eu ouvia e gostava ia atrás para saber um pouco mais – dispara.
Com uma fala nostálgica e gestos representativos, ela explica como ouvia os discos que ganhava do programa de rádio em que sempre acertava a canção da vez:
– Eu não tinha tocador, então pegava um cone de papel e engatava uma linha em uma ponta e um espinho de laranjeira na outra. Rodava com a mão e encostava o ouvido bem pertinho do “aparelho”. Dava pra ouvir todas as vibrações.
Talvez por isso seja tão fácil para ela identificar e comentar sobre cada instrumento dentro de uma melodia. Apaixonada pelas humanas, Marli foi aluna da primeira turma de história da arte no Brasil na Casa da Cultura, em 1989. Um motivo maior para frequentar as aulas era ter como professor o próprio pai, seu principal incentivador.
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– Quando abriu a lista de chamada e vi meu nome e de mais alguns da família, os olhos encheram de emoção – relembra a cena exata do primeiro dia no curso.
Assim como os irmãos, os quatro filhos de Marli também decidiram seguir carreiras relacionadas com a arte. Um deles ajuda na administração da loja. Como historiadora, passou a buscar ainda mais sobre música. Ela sabe conversar sobre qualquer artista e de qualquer época, sempre com um carinho especial pela MPB, pelo rock e por Renato Russo, de quem se diz fã número um.
– Assim como outros artistas da época, ele sabia criticar, mas fazia isso com uma classe inigualável – disserta sobre o ídolo que aprendeu a gostar com a filha.
Na loja, os “bolachões” ainda são encontrados, mas mais como peças de decoração. Os CDs e DVDs ocuparam as prateleiras, e hoje, a dona da Discolândia ainda se depara com as músicas baixadas na internet, um obstáculo para quem mantém esse tipo de negócio.
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Porém, os clientes da famosa loja são os colecionadores do Brasil, Itália, Alemanha e outros países, e os mais antigos frequentadores que também trouxeram os netos e os filhos.
– Hoje já estamos na terceira geração de clientes – comenta.
Para os artistas joinvilenses, Marli é peça importante. A simpática conhecedora de músicas dá todo o incentivo para quem tenta viver da arte musical. Na loja, disponibiliza espaço para o material produzido, venda de ingressos, divulgação de shows e também nas conversas e nos “pitacos” quando algum artista local resolve passar por lá pra conversar com a famosa “Dona Marli”.