Uma das vozes mais importantes da música popular brasileira, Marisa Monte estará em Florianópolis em 14 de janeiro com a turnê “Portas”. No show, sucessos como Bem Que Se Quis serão interpretados, assim como novas composições. Em entrevista exclusiva ao NSC Total, a artista revela o que gostaria de fazer no litoral de SC, relembra grandes cantores da MPB e fala sobre Grammy Latino, que ganhou junto com Jorge Drexler neste ano.

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Esta é a primeira vez que Marisa Monte vem a Santa Catarina com o álbum novo, de mesmo nome da turnê, lançado em julho de 2021. As canções inéditas marcam o retorno da carreira autoral da artista, após 10 anos sem lançamentos. A produção foi feita em meio à pandemia de coronavírus.

Grandes nomes assinam as composições com a cantora, como Arnaldo Antunes, Marcelo Camelo e Jorge Drexler. A canção com o último cantor, inclusive, rendeu um Grammy Latino de Melhor Canção em Língua Portuguesa. Outro destaque da obra é a participação de Chico Brown, filho de Carlinhos Brown, em cinco composições. Isso faz com que as músicas como Calma e Déjà Vu tragam traços da antiga banda de Marisa e Carlinhos, os Tribalistas.

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O show, que aconteceria em 3 de dezembro, foi adiado por conta do alto volume de chuva em Santa Catarina. Assim, a apresentação acontecerá em 14 de janeiro, no Hard Rock Live Florianópolis, às 21h. A cantora vai interpretar as músicas inéditas, como Pra Melhorar e Portas, além das que marcaram a memória dos fãs, Ainda Bem, Beija Eu e Bem Que Se Quis. Os ingressos para a apresentação estão disponíveis em www.eventim.com.br.

Em conversa exclusiva com o NSC Total, a cantora relembra vinda a Florianópolis, comenta prêmio que recebeu neste ano, fala sobre a Música Popular Brasileira e a regravação de suas canções por novos artistas.

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Confira abaixo a entrevista completa com Marisa Monte.

Marisa, recentemente você ganhou o Grammy Latino, junto com Jorge Drexler, pela música Vento Sardo. Como surgiu a ideia desta parceria? Como a música uruguaia de Drexler agrega para a sua composição em português?

Conheço o Jorge Drexler há alguns anos e a nossa aproximação se deu através da música e da arte. Ele é um artista genial, um compositor brilhante, que admiro muito como pessoa e como criador. Há alguns anos nos encontramos numa viagem de férias na Sardenha (Ilha no Mar Mediterrâneo), e lá, num barco, fizemos essa música. Vento Sardo é uma homenagem ao vento, esse elemento que simboliza a constante mutação, a fluidez, da adaptação a qualquer obstáculo, com sua força e leveza simultaneamente.

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Gosto muito de conversar com ele e da troca intelectual e afetiva. A gente conversa em português e espanhol, fluindo entre os idiomas com muita naturalidade, e a música saiu assim também, nesse intercâmbio de identidades e culturas. Vento Sardo ao ganhar um Grammy aproximou ainda mais os laços e as pontes que nos unem.

As artes do álbum “Portas”, com o qual você fará show em Florianópolis, tem cores bem fortes e parecem pinturas. Tem alguma razão para essa escolha?

Todo projeto gráfico do álbum foi desenvolvido a partir de uma parceria com a artista plástica Marcela Cantuária. Ela é uma das artistas visuais que eu seguia há cerca de dois anos, suas pinturas foram uma das janelas que eu mantinha aberta para o mundo, durante o isolamento. Sem que ela soubesse, a vi pintar mulheres, animais, histórias e natureza. O universo dela cheio de mistérios, fantasias, símbolos, feminismo, cores e imagens, me encantou e seduziu. Trabalhamos numa troca intensa de referências, num diálogo profundo entre nossos diferentes campos artísticos, durante dois meses, para que ela criasse essa série de pinturas chamada “Portas”. Com seu olhar e traço virtuoso, ela criou um imaginário que potencializou e deu forma às canções.

Você já passou várias vezes por Santa Catarina, inclusive com a banda Tribalistas, tem alguma memória especial de um show feito aqui?

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Adoro Florianópolis, uma cidade onde sempre fui muito bem recebida. Estou torcendo pra sobrar um tempo pra dar um mergulho nas praias da Ilha ou uma volta na Lagoa da Conceição.

A MPB continua muito viva no cenário nacional e internacional. O que você acha que contribui para a renovação do ritmo?

MPB não é exatamente um ritmo. Também não é, para mim, um conceito parado no tempo. É música popular brasileira, música que identifica o país e que evolui através dos tempos, com as inovações, as modas, os modos, as misturas, as trocas e as novas gerações. É impossível falar da música brasileira sem falar de diversidade, variedade, mistura e inovação e produção constante. E quem alimenta isso tudo é o amor inato que o povo brasileiro tem por música.

Alguns cantores como Silva estão reinterpretando as suas músicas. O que você acha desse movimento de uma nova geração repercutindo suas canções?

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Acho interessante e gosto muito que outros artistas regravem minhas canções. Fico satisfeita toda vez que meu trabalho de compositora vai além do meu trabalho como cantora. Eu já acompanhava o trabalho do Silva e o fato dele ter feito um álbum dedicado ao meu cancioneiro nos aproximou.

Este ano perdemos Gal Costa e Elza Soares, grandes nomes da MPB. Você é vista como uma sucessora e também um grande nome da música popular brasileira. Como outras mulheres podem continuar ocupando esse espaço, se destacando e sendo reconhecidas?

A música é um meio tradicionalmente masculino, onde as exceções sempre foram as vozes femininas. Vejo as mulheres cada vez mais a serviço da composição, em conexão com o imaginário e a arte. A presença das mulheres na música está evoluindo como em qualquer outro setor da sociedade, onde cada vez mais elas buscam construir suas trajetórias com autonomia e liberdade.

Recentemente você comentou que Erasmo Carlos foi uma inspiração para sua música, assim como Gal Costa. O que você diria que esses grandes músicos deixam de ensinamento para a atual geração de cantores?

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São dois artistas com uma carreira extensa, uma obra generosa, de grandeza histórica, que nos deixaram um legado de inúmeras canções e gravações. Um exemplo de liberdade criativa, amor à arte e integridade. Eram brilhantes, deixaram suas vozes e também um grande silêncio.