*Artigo por Mário Sant’Ana
O principal e mais precioso investimento feito na educação é o tempo dos estudantes. Boa parte das melhores horas acordadas da infância e da adolescência de alguém é confiada ao sistema de educação. Cabe aos seus profissionais, de todos os níveis, utilizar bem todo esse tempo e ajudar quem estuda a fazer o mesmo.
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No Brasil, os professores dedicam 67% do tempo em sala de aula a atividades diretamente relacionadas ao processo ensino-aprendizado propriamente dito. O restante é consumido por tarefas administrativas e esforços para manter a ordem e a disciplina em sala de aula. Foi o que revelou a TALIS (sigla em inglês para a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem, coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico — OCDE).
Se conseguirmos aproveitar o tempo de aula como fazem a média dos países da OCDE (78%), será como se nossos filhos somassem 250 dias letivos aos 12 anos dedicados à educação básica. Considerando que o Brasil gasta 5,6% do seu PIB em educação, deixaríamos de perder ao longo desse período algo em torno de R$ 625 bilhões, números brutos que falham em capturar os verdadeiros valores e os ganhos no coração, na mente e no futuro de cada criança que tem acesso a boa educação.
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O bom professor conhece bem o que ensina e sabe fazer a gestão da sala de aula. Cativar e engajar os estudantes não é um desafio de carisma, mas de competência. Alunos motivados a aprender têm menos problemas disciplinares e melhor desempenho.
E é aí que desponta o valor de distribuir corretamente os docentes mais experientes, assunto que tratamos no artigo anterior em A experiência para reduzir desigualdades.
Mestres tarimbados que não jogaram a toalha têm, tipicamente, bom domínio das classes às quais ensinam e servem de referência para os professores em início de carreira. É o que acontece, por exemplo, na Chapada Diamantina, no centro da Bahia.
Naquelas bandas, o Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (ICEP) desenvolve coordenadores pedagógicos para a tarefa de tornar os professores mais efetivos. “O foco lá é em melhorar a atuação de quem comanda o show na sala de aula. E planejar o que fazer é fundamental para a aula dar certo.” — explica Daniel Barros, em “País Mal Educado”, livro do qual é autor.
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Quando, no início do anos 1990, Cybele Amado, fundadora da organização, começou esse trabalho na região, 65% das crianças da Chapada Diamantina terminavam a primeira fase do Ensino Fundamental (atual 5º ano) sem saber ler. Atualmente, 89% das crianças se alfabetizam ao final do 1º ano do ensino fundamental, um terço do tempo estabelecido como meta pelo Plano Nacional da Educação (PNE).
Abaíra é um dos municípios atendidos pelo Instituto. Encrustada no centro da Chapada, a cidade ostenta o título de Capital da Cachaça, mas trata a educação com grande sobriedade. Por isso, seus quase nove mil habitantes podem se orgulhar de que 60% dos seus filhos, ao chegarem no quinto ano, demonstram aprendizado adequado em Língua Portuguesa e 49%, em Matemática — acima das médias nacionais: 57% e 47%, respectivamente.
Estão longe do ideal, mas, indiscutivelmente, é um avanço extraordinário em uma das regiões mais pobres do Brasil. Estão de parabéns!
Conectando os pontos:
· O acesso a educadores experientes é um fator determinante para o sucesso dos estudantes. Saiba mais.
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· Para isso acontecer a mais meninas e meninos, é preciso mudar a estrutura atual que distribui mal os docentes com mais tempo de sala de aula. Saiba mais.
· Os mestres mais tarimbados podem ajudar os novatos a reduzir o tempo que gastam com tarefas administrativa e com o controle do comportamento dos estudantes para se tornarem mais efetivos na arte de ensinar.
Outros artigos desta série
· O que deve ser feito para crianças e adolescentes aprenderem bem o que é mais importante?
· Quando a experiência não faz diferença (e quando faz)
· A experiência para reduzir desigualdades

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tank Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br