*Artigo por Mário Sant’Ana
Cega desde 1994, Ádria Santos, velocista com medalhas em 17 competições internacionais, agora pode reconhecer rostos, cores, objetos, cédulas de dinheiro, consultar o calendário e ver as horas.
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Desenvolvido em Israel, o OrCam MyEye, avanço tecnológico que permite essa conquista, foi o que Ádria usou para, emocionadíssima, ler o anúncio de que estava recebendo a doação de uma unidade do equipamento. Sim, a inovação também permite que deficientes visuais leiam em português, inglês e espanhol.
A cena comoveu todos no auditório do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, na quarta-feira passada, durante a abertura da terceira edição do Hackvision, evento de inovação em saúde.
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A cegueira é menos rara do que muitos imaginam. No site da OMS (Organização Mundial da Saúde), lemos que há 39 milhões de cegos no mundo (duas vezes a população do Chile). Segundo o senso de 2010, o Brasil tinha quase 530 mil indivíduos acometidos de cegueira. Fábio Júnior de Souza, Professor de Música na AJIDEVI (Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais) explica que, em Joinville, aproximadamente 6 mil pessoas têm acuidade visual inferior a 5% do normal, das quais 128 estão em idade escolar.
O acesso a tecnologias assistivas como o OrCam MyEye certamente tem um efeito decisivo na qualidade da participação dos deficientes visuais na sociedade. Proporcionar isso às crianças é abrir as portas para um futuro bem mais pleno do que hoje é possível para os que veem pouco ou nada. Como a maioria dos que têm deficiências visuais estão entre os mais pobres, a questão tem uma dimensão social importante e requer a atenção de filantropos e do poder público. Os estudiosos apontam que 20% das crianças possuem algum problema visual e 60% das dificuldades de aprendizado dentro de sala de aula estão relacionadas à falta de visão. Um estudo realizado em Campinas (SP) concluiu que a maior causa da evasão escolar são os problemas de visão, que respondem por 22,9% dos casos.
Esse é mais um item da lista de problemas que pioraram com a pandemia da covid-19. O oftalmologista Renan Ferreira Oliveira, diretor de inovação do Opty, o maior grupo de oftalmologia da América Latina, aponta que estudos populacionais indicam que os casos de miopia e alta miopia triplicaram desde março de 2020, especialmente entre crianças de 6 a 8 anos de idade. Um dos principais fatores de prevenção dessa condição é o contato com iluminação natural promovido por atividades ao ar livre, que têm sido muito reduzidas nos últimos 18 meses.
A boa notícia é que 80% dos casos de deficiência visual são evitáveis ou tratáveis, bastando que sejam o quanto antes rastreados, devidamente diagnosticados e efetivamente tratados. Para buscar resolver as várias restrições da jornada da criança que precisa enxergar melhor, os participantes do Hackvision 2021 trabalharam em equipes que envolveram representantes da Prefeitura de Joinville, empresas do setor oftalmológico e da sociedade civil.
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Além de um mutirão para zerar a fila de 2080 crianças (algumas à espera há mais de três anos) para um exame oftalmológico, os times propuseram soluções para as várias etapas do caminho que vai da identificação da criança que apresenta dificuldades para ver à realização do tratamento adequado.
Os avanços tecnológicos e a boa relação entre órgãos públicos, empresas e a sociedade civil são ativos da sociedade joinvilense capazes de levar o município para a condição de referência na promoção da acuidade visual, especialmente nas crianças.
O Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, mais uma vez, desponta como uma referência na qualidade dos serviços que oferece, pela busca pela inovação, melhores práticas e pelo compromisso com a comunidade.

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tanks Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br
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