*Artigo por Mário Sant’Ana

“A boa escola é aquela em que os professores ensinam e os alunos aprendem” — Antônio Ermínio de Moraes.

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A criança e o adolescente têm pouco ou nenhum controle sobre algumas importantes variáveis do ato de aprender, tais como as relacionadas aos fatores socioeconômicos e ao próprio desenvolvimento biológico.

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Ensinar, por outro lado, é ato intencional e prática para a qual profissionais se preparam continuamente, têm a seu dispor vastíssima bibliografia e a experiência acumulada ao longo dos milênios.

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Quando a experiência NÃO FAZ diferença

Segundo a TALIS (sigla em inglês para a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem, coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) além da boa formação acadêmica, os professores com mais de dez anos em sala de aula tendem a contribuir mais para o sucesso dos estudantes.

Entretanto, como mostra o Gráfico 1, quando cruzamos o número de docentes com mais tempo de magistério nos países que participaram da TALIS com os resultados que obtiveram no PISA (Sigla em inglês para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), vemos que ter muitos professores experientes no sistema não é sinônimo de bom desempenho dos alunos.

A linha vermelha indica a tendência de os resultados no PISA serem pouquíssimo impactados pelo percentual de professores com mais de dez anos de experiência em um território.

Impacto no aprendizado da existência de professores experientes
Impacto no aprendizado da existência de professores experientes (Foto: Projeto Resgate – Dados OCDE)

Como é no Brasil?

O Brasil tem um percentual de professores com mais de dez anos de carreira (67%) próximo da média da OCDE (66%), mas é o quarto mais mal posicionado no PISA (sigla em inglês para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), dentre os países que participam na TALIS. Enquanto isso, a maioria dos ocupantes das primeiras posições do PISA apresenta percentuais menores de professores tão experientes, conforme indica o Gráfico 2.

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Percentual de professores com pelo menos 10 anos de experiência e posição no raking do PISA
Percentual de professores com pelo menos 10 anos de experiência e posição no raking do PISA (Foto: Projeto Resgate – Dados OCDE)

Quando a experiência FAZ diferença

A TALIS verifica como os professores mais experientes se distribuem nas escolas de cada país e estabelece o que chama de Índice de Dissimilaridade, que varia de 0 a 1. Quanto mais baixo for o índice, maior é a semelhança entre o que existe no país com o que se observa nas escolas em geral, no que diz respeito à distribuição dos docentes com mais tempo de profissão.

Quando relacionamos a distribuição em todos os países participantes da TALIS com suas notas no PISA, temos uma forte indicação de que, também na educação, o desequilíbrio menor tende a produzir melhores resultados. É o que demonstra o Gráfico 4, no qual a linha vermelha indica a tendência de os resultados no PISA serem melhores nos países que distribuem melhor seus professores mais experientes. O acesso a professores com experiência é o grande determinante.

Impacto no aprendizado da distribuição de professores experientes em um território
Impacto no aprendizado da distribuição de professores experientes em um território (Foto: Projeto Resgate – Dados OCDE)

Como é no Brasil?

Dos 45 países participantes na TALI, apenas Portugal, Turquia e Arábia Saudita apresentam uma distribuição pior que a nossa. Nessa comparação, somente os estudantes sauditas tiveram no PISA desempenho pior que os nossos.

Dissimilaridade na distribuição de professores com pelo menos 10 anos de experiência e posição no ranking do PISA
Dissimilaridade na distribuição de professores com pelo menos 10 anos de experiência e posição no ranking do PISA (Foto: Projeto Resgate – Dados OCDE)

Desigualdades diferentes

A sociedade brasileira precisa curar seus males. A péssima distribuição de riqueza e renda no País limita nosso desenvolvimento, cujas causas costumam escapar do alcance dos mecanismos tipicamente utilizados para tentar redistribuir os resultados. Em muitos casos, pioram o problema e criam outros.

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A dificuldade de acesso aos professores mais experientes diminui as chances de êxito na escola e, consequentemente, na vida. O desequilíbrio na oferta dessas oportunidades garante a desigualdade dos resultados socioeconômicos. A pobreza afasta as pessoas das melhores oportunidades de educação… 

Combater a desconexão entre recursos e necessidades na educação é um desafio das lideranças da sociedade, inclusive (mas não apenas) dos governantes. 

No próximo artigo desta coluna, falaremos sobre as causas da dificuldade de acesso às melhores oportunidades de aprendizagem e como podemos superá-las.

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Mário Sant'Ana escreve no AN às terças
Mário Sant’Ana escreve no AN às terças (Foto: Arquivo)

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tank Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br

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