*Artigo por Mário Sant’Ana

Decididos a ver neve, chegamos a São José dos Ausentes, município gaúcho com 3.500 habitantes. Depois de fazermos o check-in em um dos poucos hotéis da cidade, a atendente nos explicou que para irmos aos nossos apartamentos deveríamos subir à escada e pegar o corredor à direita, enquanto, com uma das mãos, apontava para a esquerda.

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Quando expressei a inevitável dúvida do que deveria fazer após chegar ao cume da escada, a mulher se desculpou e, sorrindo, confirmou que eu deveria virar à direita, só que, desta vez, apontou com as duas mãos para a esquerda.

Achei melhor não insistir. Usando como referência os números identificando os chaveiros, achamos os apartamentos. Deu tudo certo.

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Esse negócio de esquerda e direita é difícil mesmo. Na arena política é complicadíssimo, inclusive entre os mais radicais. Segundo a Teoria da Ferradura, atribuída ao escritor francês Jean-Pierre Faye, os extremos das duas visões estão bastante próximos em suas tendências autoritárias e no repúdio ao debate inteligente.

Porém, independentemente de qual sejam, as posições ideológicas dos políticos parecem estar longe dos principais interesses dos cidadãos — pelo menos da maior parte dos que responderam a uma enquete que publiquei nas redes sociais no último fim de semana.

Sem se identificar, cada respondente escolheu, de uma lista, três itens que lhe pareceram prioritários em suas decisões. Em adição aos nomes dos cargos eletivos para as três instâncias (municipal, estadual e federal), a relação continha quatro tópicos diretamente relacionados ao dia a dia: assistência médica, carreira profissional, educação e moradia.

Além de indicar suas três prioridades, a pessoa deveria avaliar seu poder de escolha com relação a cada uma delas.

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O que é mais importante ser decidido pelo indivíduo?

No geral, 79% das indicações foram para Educação (25%), Assistência Médica (23%), Carreira Profissional (19%) e Moradia (12%) . Os outros 21% se distribuíram entre os cargos políticos: Presidente (10%), Prefeito (3,7%), Governador (3%) e Deputado Federal (2%). Vereadores e Deputados Estaduais reuniam 1% das preferências. O item “Senador” recebeu 0,67% das indicações.

Achei que Suas Excelências Senadores da República se sairiam melhor, considerando a extraordinária exposição que vários têm tido ultimamente.

Segundo a Agência Senado, “73% dos brasileiros conhecem a CPI da Pandemia”, cujas notícias não nos dão trégua há mais de cinco meses. Dessa parcela, “dois em cada três brasileiros (66%) consideram a criação da CPI muito importante para o país”. Entretanto, nem um único respondente da enquete que tenha cursado o Ensino Médio ou menos indicou a escolha de um senador como uma de suas três maiores prioridades.

57% dos homens com esse grau de instrução acham que decidir sobre a educação seja mais importante e, em segundo lugar, vem a Assistência Médica, com 30% das preferências. Entretanto, esses homens pensam que não decidem tanto quanto gostariam: 81% consideram seu poder de decisão nesses assuntos pouco, muito pouco ou nenhum.

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Dentre as respondentes do sexo feminino com essa escolaridade, 37% dão importância máxima à assistência médica; enquanto 29% escolheram a educação como sua maior preocupação.

Infelizmente, duas de cada três dessas mulheres (66%) afirmam que seu poder de decidir sobre essas importantes questões é pequeno, muito pequeno ou nenhum. Os números parecem sugerir que prefeririam escolher seu ginecologista e onde os filhos estudam a votar na eleição para o Senado da República, como lhes é imposto.

É mais fácil conviver com a dificuldade de discernir o lado direito do esquerdo, do que com a impotência diante de questões cruciais para o bem-estar e prosperidade de sua família.

A política brasileira precisa produzir menos embates e mais soluções. Mais que um contrassenso, denominar “democracia” um sistema em que as pessoas não têm poder para decidir o que lhes parece mais importante é uma perversidade brutal.

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A análise da enquete continuará na próxima semana

Dos 201 respondentes, 97% disseram morar em Santa Catarina. 40 cursaram o Ensino Médio ou menos. 63% são do sexo feminino e 36 do sexo masculino. Na pergunta sobre gênero, uma pessoa preferiu não escolher uma categoria+. Ela tem o Ensino Médio ou menos e acha que é mais importante decidir sobre Assistência Médica, Carreira Profissional e Educação, nessa ordem.

escritor
Mário Sant’Ana escreve no AN às terças (Foto: Arquivo AN)

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tanks Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br

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