*Artigo por Mário Sant’Ana
No início do filme “O Advogado do Diabo” (1997), Kevin Lomax (Keanu Reeves) decide, diante do espelho do banheiro, buscar a todo custo a absolvição de um homem que ele sabia ser culpado de pedofilia. O motivo: evitar as repercussões negativas que, Larry, um repórter, sugeriu que a justa condenação do criminoso teria na carreira do advogado.
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A partir daí a trama gira em torno da vertiginosa trajetória de sucesso, prestígio e tragédias na vida de Lomax, sob a mentoria de John Milton (Al Pacino) — Satanás, travestido de poderoso empresário novaiorquino.
Depois de duas horas de projeção, o filme revive a cena do banheiro, como se tudo tivesse acontecido em frações de segundo, em algum tipo de realidade paralela. Dessa vez, contudo, o jovem decide ser íntegro e abandona o caso, pondo em risco sua carreira.
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Dizendo-se impressionado pelo gesto de coragem moral, Larry propõe dar visibilidade nacional aos nobres ideais do jovem advogado. Lomax cede às lisonjas e aceita a proposta.
Quando o repórter fica sozinho na cena, o personagem é incorporado por Pacino, dando a entender que, nas duas situações, o jornalista estivera a serviço do Diabo, que declara: “Vaidade: com certeza, meu pecado favorito!”
A vaidade é praticamente inerente ao homem. Como mostra o filme, combina-se tanto ao vício quanto à virtude. No poema “Se”, Rudyard Kipling ensina ao filho, logo na primeira estrofe, como lidar com esse fato da natureza humana, para se tornar um bom homem.

Manter a esperança e não pagar o mal com o mal são atributos que o Homem (“H” maiúsculo) deve cultivar e que o destacarão dos demais. Foi o que fez Kevin Lomax na sua segunda chance diante do espelho.
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O que o advogado não fez, contudo, foi o que o poeta aconselha no último verso da estrofe: não ostente suas virtudes.
Como a vaidade se alimenta dos holofotes, o bom homem deve evitar manifestá-la, para não fortalecê-la e não ser por ela dominado. Isso não é falsa modéstia, mas prudência.
O bom homem não se furta de ser virtuoso, mas sabe que essa decisão o expõe a males mais sofisticados, silenciosos, mais difíceis de ser diagnosticados e, consequentemente, mais perigosos.
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*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tank Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br