*Artigo por Mário Sant’Ana

Publiquei faz dez dias em algumas redes sociais o formulário para uma enquete.

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Sem se identificar, cada respondente escolheu, de uma lista, três itens que lhe pareceram prioritários em suas decisões. Além dos cargos eletivos para os níveis municipal, estadual e federal, a relação trazia quatro tópicos relacionados ao dia a dia: assistência médica, carreira profissional, educação e moradia.

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As primeiras análises dos dados coletados publiquei nesta coluna, na terça-feira passada. Os números gerais revelam um interesse muito maior nas questões do cotidiano do que nos representantes políticos. Os fatores idade, gênero e escolaridade demonstraram pouca influência nas respostas. As opções mais indicadas foram, em ordem de preferência: educação, assistência médica e carreira profissional.

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O economista Marcelo Neri entende que “o grande momento de um pesquisador empírico não é quando ele confirma o que já sabia, mas quando se surpreende com algo que não sabia.” Meus “grandes momentos” nesta enquete ocorreram quando estratifiquei os dados das avaliações de cada indivíduo do seu poder de decidir sobre o que lhe é mais importante.

Quando se trata dos assuntos do dia a dia, o poder de decisão percebido pelas mulheres com escolaridade além do Ensino Médio é 9% maior que o das que passaram menos tempo na sala de aula. Quando colocamos o homem com menor escolaridade no centro da análise, as distâncias aumentam.

Ao avaliar seu poder de decisão em uma escala de 1 a 5, em que 1 corresponde a “nenhum” e 5 a “tenho o poder de decidir que gostaria”, o homem com o Ensino Médio ou menos deu a si próprio nota 2,58 (entre “muito pouco” e “pouco”). Respondentes de outras categorias indicaram valores mais altos, conforme a tabela e o gráfico abaixo:

tabela
*Apenas um respondente (0,5% do total) (Foto: Mario Sant´Ana)
gráfico
* Apenas um respondente (0,5% do total) (Foto: Mário Sant’Ana)

A amostragem é pequena demais para conclusões de nível macro. A enquete não foi feita com a intenção de analisar o comportamento da população do País, mas para subsidiar reflexões e estas vieram de uma direção inesperada.

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Historicamente de grande valia para a sobrevivência da espécie, as características relacionadas à masculinidade têm perdido prestígio.

O vigor físico masculino tem hoje ganhado mais significado estético que funcional, conforme as ferramentas de produção cada vez mais versáteis e poderosas tornam os homens fortes prescindíveis em um número crescente dos processos produtivos. Ao mesmo tempo, famílias menores, o importante aumento da escolaridade das mulheres e da sua participação no mercado de trabalho empalidece a figura do provedor masculino.

Enquanto isso, mudanças comportamentais esvaziam o papel de liderança do homem no lar. Nos círculos mais intelectualizados e audíveis, as expressões “chefe da família” e “homem da casa” não mais remetem à responsabilidade masculina sobre o núcleo familiar, mas são tratadas como manifestações sexistas do milênio passado.

A legitimidade dessas mudanças e se isso será bom para a sociedade no longo prazo são questões ainda debatidas entre algumas facções de progressistas e de conservadores. Sem dar bola aos debates, a história avança.

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Da mesma forma, alheio a essas discussões por estar ocupado demais tentando sobreviver, manter-se relevante em casa e não contar com organizações ou partidos que o represente, o homem urbano simples, como o que respondeu à enquete, considera baixo seu poder de decidir sobre o que lhe é mais caro. Muitos se resignaram ao fim do protagonismo masculino, mesmo sem saberem lidar com o novo formato.

Os desdobramentos disso são importantes para o indivíduo, assim como para o modelo familiar adotado e desejado pela maioria. Além disso, com mais de 90% da população masculina com nível de instrução menor que o Ensino Superior completo (IBGE, 2010) o Brasil se torna presa fácil para demagogos de diferentes matizes ideológicos que prometerem aos homens o resgate do reconhecimento do qual a masculinidade desfrutou em outras épocas. Tal desastre pode facilmente acontecer na próxima disputa eleitoral.

Dos 201 respondentes, 97% disseram morar em Santa Catarina. 40 cursaram o Ensino Médio ou menos. 63% são do sexo feminino e 36 do sexo masculino. Na pergunta sobre gênero, uma pessoa preferiu não escolher uma categoria. Ela tem o Ensino Médio ou menos e acha que é mais importante decidir sobre Assistência Médica, Carreira Profissional e Educação, nessa ordem.

escritor
Mário Sant’Ana escreve no AN às terças (Foto: Arquivo AN)

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tanks Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br

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