*Artigo por Mário Sant’Ana

Em 2006, uma estiagem prolongada castigava a região catarinense em que se encontra o Município de Ouro. A imagem de uma cabeça de porco no centro do brasão e da bandeira do município me leva a crer que a suinocultura seja algo importante naquele lugar. Com certeza, uma grande população de suínos e escassez de água não formam uma boa combinação.

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Em alguns lugares que conheço, a tubulação da empresa de abastecimento de água seria crivada de ligações clandestinas. Em outros, agências bancárias seriam destruídas e o trânsito nas vias públicas interrompido por pneus em chamas, como forma de exigir que o governo resolvesse a crise hídrica.

Os ourenses da Linha Nossa Senhora da Saúde tiveram outra ideia: constituíram uma associação com o objetivo específico de perfurar um poço artesiano para atender à demanda de água da localidade.

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As expectativas foram muito superadas. O precioso líquido guardado a 500 metros de profundidade subiu para jorrar à temperatura de 36 graus sobre a terra sedenta. O subsolo de Ouro tem abundância de águas geotérmicas.

Disso surgiu um empreendimento que hoje é o Balneário Thermas de Ouro S.A., cujos acionaistas são, principalmente, aquelas pessoas que se uniram para enfrentar o problema da seca.

Brasão do município catarinense de Ouro
Brasão do município catarinense de Ouro (Foto: Divulgação)

Assim, antes de atender ao setor agropecuário, a água abastece as piscinas do Thermas, por onde passam 30 mil visitantes por ano (quatro vezes a população do município), ampliando as alternativas econômicas e de lazer da cidade. Estive lá com minha família em 2019. Gostamos muito do lugar.

Esse é mais um exemplo da capacidade que os catarinenses têm de “fazer a hora e não esperar acontecer”. Engajamentos assim podem ser um complemento, uma alternativa e, quando necessário, um antídoto à atuação do Poder Público, como demonstra também a próxima a história.

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Em 1961, o curso científico (atual Ensino Médio) do Colégio Bom Jesus contava 54 estudantes e se tornara financeiramente inviável. Depois de acionar sem sucesso o Governo do Estado para que socorresse a escola, a Associação de Empresários de Joinville (ACIJ) formou uma comissão de empresários de peso (Hans Peter Stein, Heitor Lobo, Herbert Zimath, Antônio Gabardo, Nelson Meister, Hans Dieter Schmidt, Alceu Lopes, Waldo Herbster e Jaime Corrêa) “para buscar solucionar a situação do Colégio Bom Jesus, que se vê na iminência de encerrar o seu curso científico” registra a ata da reunião, transcrita no livro “ACIJ na História de Joinville”.

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Em 6 de agosto de 1961 (exatos 60 anos do dia em que escrevo este texto), “a diretoria da ACIJ decidiu intervir para buscar equacionar o problema uma vez que ‘outros órgãos mais competentes e interessados omitiram-se da busca de solução’” —lemos na ata. Os empresários conseguiram recursos financeiros da Prefeitura de Joinville e a participação efetiva do Círculo de Pais e Mestres do colégio. Além de doações de empresários, a ACIJ aportou recursos para “pagar o custo adicional para os alunos carentes’’. Em 1963, o colégio foi adotado pela Comunidade Evangélica de Joinville.

Hoje, o Bom Jesus tem aproximadamente 3 mil estudantes na Educação Básica. Dos seus 750 bolsistas, 345 paraticipam dos programas do Projeto Resgate. Cerca de 20% de 1200 alunas e alunos dos cursos de nível superior oferecidos pela instituição são bolsistas pelo Prouni.

Há muito tempo, o Bom Jesus – IELUSC é referência em educação de qualidade para todo o Estado e parte indissociável do tecido socioeconômico da região.

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Sentar em roda para conversar e resolver problemas da comunidade é uma prática ancestral da qual, infelizmente, nos afastamos, especialmente nos centros urbanos maiores. Além disso, a forma como praticamos a democracia representativa parte da falsa premissa de que basta votar para que os interesses coletivos sejam adequadamente atendidos.

É possível reaprender a conjugar esforços para a criação de valores socioeconômicos.

Na sua sexta edição, o programa Think Tanks Projeto Resgate engaja estudantes e profissionais de diferentes áreas em esforços coordenados para resolver problemas de relevância para a sociedade. Além do impacto direto das soluções produzidas, há importantes ganhos para os participantes, que desenvolvem habilidades de inovação intersetorial, liderança não hierárquica, ampliam suas redes de contato, aprofundam sua participação cidadã e adicionam propósito à vida.

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É uma tecnologia social para a construção de uma leitura de cenário compartilhada, para a cocriação de uma visão de futuro e para a combinação de competências em prol de um futuro mais promissor.

“Não há maior poder de mudança do que uma comunidade descobrir o que lhe é importante.” – Margaret J. Wheatley – escritora americana.

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Mário Sant'Ana escreve no AN às terças
Mário Sant’Ana escreve no AN às terças (Foto: Divulgação)

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tanks Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br

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