*Artigo por Mário Sant’Ana
“É tão misterioso o país das lágrimas.”
A frase me fez parar para pensar e demorei para começar a ler a página seguinte de “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry.
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Como é possível que saibamos tão pouco sobre algo tão corriqueiro? Chorar é a primeira coisa que fazemos ao nascer. O sofrimento é central nas maiores tradições religiosas, na filosofia, nas artes, na sociologia e nas ciências relacionadas à saúde, mas pouco entendemos a seu respeito.
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Certas pessoas parecem imunes a angústias que devastam outras. Alguns crescem com suas perdas, aprofundam a identidade própria, fortalecem seu caráter e se reafirmam como sujeitos de suas histórias. Outros, sob condições similares, apenas padecem. Não poucos desistem da vida.
Por mais pessoal que seja, o sofrimento de alguém não se limita ao indivíduo. “Ninguém é uma ilha”, concluiu John Donne. As marcas de como processamos nossos dissabores são como as impressões digitais, únicas e distintivas, que deixamos também na vida dos outros. São experiências que nos definem e as nossas relações.
E na hora da angústia, nada vale tanto quanto sentir que alguém acredita em nós. “Não somos ninguém e nada se alguém não nos olha nem reconhece nosso valor, não preza nossa existência e não devolve a nós a nossa imagem ungida de algum brilho, vitalidade ou reconhecimento” — reflete José Padilha, no documentário Ônibus 174.
E é isto que fazem as voluntárias e os voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV), desde 1962, quando a organização foi fundada em São Paulo: prezam a existência alheia.
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São mais de quatro mil pessoas em todo o País, que se revezam para atender àqueles que pelo telefone, via chat ou por e-mail buscam quem queira lhes escutar. Em Joinville, 16 almas abnegadas fazem parte dessa legião.
Aposentada depois de mais de 30 anos dedicados à educação, Solange Coral, transformou a dor a perda de um familiar em uma vocação. Desde 2013, é voluntária na unidade do CVV em Joinville. “O mais importante é saber ouvir” —ensina Solange. “As pessoas precisam ser ouvidas, sentirem-se acolhidas e aceitas, para superar suas angústias. Ninguém fará isso por elas. Para mim, é uma oportunidade de servir.”
Além de amparar aos que contatam o CVV em busca de apoio emocional, Solange usa sua vasta experiência na formação de docentes para preparar quem quer fazer o mesmo.
Esse atendimento é prestado sob total sigilo e anonimato, mas o CVV também promove palestras e realiza ações na comunidade para prevenir o suicídio. A organização sem fins lucrativos precisa de pessoas que queiram se unir a esse esforço voluntário, para atender à crescente demanda que se intensificou ainda mais com a pandemia da covid-19.
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Os interessados em contribuir com tempo e/ou dinheiro, devem contatar o CVV pelo endereço joinville@cvv.org.br.
“Qual a razão de viver se não for para tornar a vida menos difícil para os outros?” – George Eliot.

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tanks Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br