*Artigo por Mário Sant’Ana
Segundo os historiadores, duas mentiras tiraram o General Deodoro da Fonseca da cama em que convalescia, por problemas respiratórios. A primeira foi que o imperador havia determinado sua prisão; a segunda, que seu desafeto, o Senador Gaspar Silveira Martins, assumiria o cargo equivalente a primeiro-ministro. Anos antes, o militar e o político disputaram o amor de uma viúva, que preferiu Silveira Martins.
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Indignado, o general saiu de casa, atravessou a praça, montou em um cavalo que estava por ali, tirou o chapéu, proclamou “Viva a República”, apeou e voltou, ofegante, para a cama. Mais simples, impossível.
Praticamente não houve resistência. O único tiro deflagrado naquele dia feriu o então ministro da Marinha, Barão de Ladário, por ter reagido a uma ordem de prisão. O militar se recuperou em alguns dias.
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Segundo os livros de História o fim da monarquia resultou do enfraquecimento de suas bases econômicas, militares e sociais. Coisas como inflação anual de 1,75% (não ria), a prisão de bispos por expulsarem maçons da igreja e a recusa do império de indenizar os proprietários rurais que se sentiram prejudicados pelo fim do regime escravista.
As manchetes de então deram vivas: “Viva a República Brasileira!”; “Viva o Exército – Viva a Armada!”; “Viva a República!”; “Viva o Exército Libertador!”; “Viva o Povo Brasileiro!”.
Tudo indica que o “povo brasileiro” não se envolveu no assunto. O jornalista Aristides Lobo resumiu da seguinte forma a não participação popular no processo: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada.”
O jornal Gazeta da Tarde de 15/11/1899 congratulou os golpistas: “Esperamos que os vencedores saberão legitimar a posse do poder com o selo da moderação, benignidade e justiça, impedindo qualquer violência contra os vencidos e mostrando que a força bem se concilia com a moderação. Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva a Liberdade!”
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Infelizmente, as esperanças do editorial não se concretizaram.
Movimentos populares, políticos e militares que discordavam do fim da monarquia, buscavam maior protagonismo no novo sistema ou com viés separatista foram violentamente reprimidos. A Revolução Federalista, A Guerra de Canudos e a Guerra do Contestado, para citar alguns, resultaram em 2.500 mortes em cada 1 milhão de habitantes, em todo o Brasil. É como se hoje morressem 550 mil pessoas em confrontos armados entre o governo brasileiro e seus opositores.
Poder e responsabilidade são indissociáveis. É urgente que as lideranças atuais e seus influenciadores aprendam isso. Mentiras e reações intempestivas podem produzir desdobramentos devastadores, como mostra o importante capítulo da História do Brasil celebrado este mês.

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tanks Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br
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