*Artigo por Mário Sant’Ana
Mais que uma forma de governo, a democracia é uma maneira de compartilhar a vida em sociedade e, no processo, nos tornarmos indivíduos melhores. Nesta série, falaremos de forma resumida dos principais avanços da humanidade na jornada democrática e como podemos torná-la melhor.
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A palavra déspota vem do grego e significava, originalmente, “o dono da casa”. O raciocínio é: “Minha casa, minhas regras. Aqui mando eu.”
Dentro dos limites das circunstâncias, a pessoa que mora sozinha decide, por exemplo, o que come, quanto dorme, a posição dos móveis, como o dinheiro é gasto.
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Se vive com outra pessoa adulta, como em um casamento, essas decisões são negociadas. Se têm dependentes, os donos da casa (os déspotas) têm a obrigação de liderar, definir regras, limites e garantir que estes sejam respeitados.
A ideia é boa… até certo ponto.
E o ponto é que a “casa”, na Antiguidade, incluía várias famílias e grande número de pessoas e a dependência era muitas vezes mantida artificialmente, pela força (como no caso dos escravos), pela subjugação econômica (quando o risco da autonomia é maior que a conveniência da sujeição), pelo medo (proteção contra perigos reais ou imaginários), ou pela manipulação (a mensagem de que esse é o melhor modelo possível). Na Grécia Antiga, esse estado, resultante da corrupção do poder do déspota, foi chamado de despotismo.
Com o crescimento populacional da “casa”, o déspota percebeu que conseguia manter o poder absoluto apenas sobre um pequeno número de pessoas e que a maioria estava fora do controle. Criou, então, um segundo nível de liderança com pessoas que lhe eram leais e que se reportavam a ele, o chefe de chefes, ou chefe de estado, como, por exemplo, um rei.
Assim, o líder maior deixou de ter poder absoluto sobre a vida e a propriedade de poucas pessoas, para ter um domínio menor (mas ainda muito grande) sobre a vida de mais pessoas, por meio desses novos líderes.
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Esses chefes intermediários foram escolhidos por serem excelentes ou “áristos”, como chamavam os gregos, e formaram a aristocracia. Nessa nova configuração, o povo, em tese, seria governado pelos melhores, pelos nobres.
A ideia é boa… até certo ponto.
E o ponto é que, para começar, o melhor de ontem pode não ser o melhor de hoje. Para se manterem no poder, portanto, muitos aristocratas cultivavam suas habilidades e dificultavam que outros fizessem o mesmo. Para isso, recorriam à força, à subjugação econômica, ao medo e à manipulação.
Além disso, como o título de nobreza era hereditário, quem sucedia o nobre não tinha de ter sua excelência validada para ser líder. A estes somaram-se aqueles cujo poder econômico lhes permitiu adquirir uma posição na aristocracia.
Conforme cresceu a população e as dinâmicas sociais se intensificaram, passou-se a questionar a liderança de descendentes não excelentes e dos que ocupavam no governo vagas compradas.
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A lógica da evolução da governança indicava que o povo devia governar a si próprio. É o que os gregos (sim, eles de novo) chamaram de “democracia”. Na prática, cada um fica responsável pela sua casa (muitos déspotas com casas muito pequenas) mas decidem em conjunto as regras e os limites da sociedade. As decisões devem refletir a vontade da maioria.
A ideia é boa… até certo ponto.

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tank Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br
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