*Artigo por Mário Sant’Ana
O professor brasileiro é um idealista, ou seja, valoriza e afirma o valor das ideias. É o que atestam as pesquisas, tais como a TALIS (sigla em inglês para a Pesquisa Internacional sobre e “Ensino e Aprendizagem) e outra, publicada pela UNESCO, sob o título “Perfil do Professor Brasileiro”.
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Segundo a primeira, 95% dos docentes brasileiros citam a oportunidade de contribuir para uma sociedade melhor como um dos principais motivos que os levaram a escolher o magistério e os mantêm na profissão. Segundo a UNESCO, “Amor à profissão” foi a motivação apontada por 53% dos mestres que responderam à pesquisa.
Nos cursos de licenciatura e de aperfeiçoamento, esse ideário é alimentado. A formação dos membros do magistério é rica em teorias provocadoras dos anseios por uma sociedade mais equânime, por um País mais democrático, por maior tolerância das diferenças, pela construção da autonomia política, pela formação de cidadãos críticos e pela concepção de humanidade como comunidade planetária.
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Enquanto as produções acadêmicas projetam um mundo novo, os professores dão aula no velho — por enquanto, o único que existe. Nele vivem pais que confundem escola arrumadinha com boa escola, gestores que fazem malabarismo para manter a ordem no ambiente escolar e estudantes que se lhes fosse dada a opção, prefeririam não passar de quatro a cinco horas por dia sentados em sala de aula, com todas as suas imposições, inclusive os currículos definidos pelo MEC.
Esse choque de realidade, contudo, não basta para dissuadir o docente das suas convicções.
Apesar de sermos uma nação de analfabetos funcionais (ver artigo anterior), os professores brasileiros fazem autoavaliações bem mais generosas que seus pares dos países mais bem colocados no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), em cujo ranking ocupamos a 4° pior posição. Confira:

Segundo apurou a UNESCO, os docentes brasileiros justificam a óbvia contradição (professores exitosos e alunos fracassados) atribuindo a culpa pelos maus resultados da estrutura da educação a quem está fora dela e às vítimas. Para 94% dos mestres, o mal desempenho dos alunos é culpa principalmente às famílias que não oferecem aos estudantes a devida assistência e acompanhamento; 90% responsabilizam também o aluno que não se esforça nem se interessa pelas aulas.
Penso que é hora de identificarmos e corrigirmos O QUE e não QUEM está errado, para que nossos filhos possam aprender melhor.
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O professor é um ator principal em um processo cuja importância dificilmente pode ser exagerada. Entretanto, revela a pesquisa Perfil do Professor Brasileiro, dois em cada três profissionais do magistério admitem não terem sido preparados para ensinar o que os alunos precisam aprender para vencer no mundo que existe. Outra dissonância: julgam-se professores competentes, mas, ao mesmo tempo, não preparados para ensinar.
Os cursos de licenciatura precisam garantir a quem comanda o show em sala de aula as ferramentas necessárias para que, ao fim do ensinam médio os adolescentes saibam bem Matemática básica, interpretem e construam textos com complexidade média, e consigam entender que a França que há séculos foi governada por Napoleão é a mesma em que hoje joga Neymar Jr.
Idealismo e realismo não são mutuamente excludentes, mas precisam ser equilibrados pelo bom senso. Ao mesmo tempo em que os docentes devem instigar meninos e meninas a ver o mundo como deveria ser, têm a obrigação de prepará-los para os desafios muito reais que precisarão superar para a construção de um futuro próspero.
Conectando os pontos:
· O acesso a educadores experientes é um fator determinante para o sucesso dos estudantes. Saiba mais.
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· Para isso acontecer a mais meninas e meninos, é preciso mudar a estrutura atual que distribui mal os docentes com mais tempo de sala de aula. Saiba mais.
· Os mestres mais tarimbados podem ajudar os novatos a reduzir o tempo que gastam com tarefas administrativa e com o controle do comportamento dos estudantes para se tornarem mais efetivos na arte de ensinar. Saiba mais.
· É preciso melhorar a qualidade dos que cursos de licenciatura, atraindo e formando os melhores talentos. Quem mais aprende tem de ensinar mais. Saiba mais.
· O bom professor da educação básica é aquele cujos alunos aprendem o básico e para isso que devem ser preparados, com menos teorias sobre o mundo que precisamos e mais técnicas para preparar o estudante para o mundo em que vivemos.
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