Em Joinville, entendi a diferença entre habitante e cidadão.
Acostumado ao anonimato e à alienação que os grandes centros urbanos permitem ou impõem, aprender a participar dos assuntos da cidade em que moro tornou minha vida mais completa. Entendia meu vínculo jurídico com o Brasil, meus direitos e deveres previstos na lei, mas aqui percebi a existência e a importância de outras dimensões da cidadania.
Continua depois da publicidade
Acesse para receber notícias de Joinville e região pelo WhatsApp
Cidade, cidadania e civilidade são palavras que compartilham a mesma raiz latina: civita. O termo encapsula a ideia de que é preciso engajar nos assuntos locais e fazê-lo com bons modos.
Esses belos conceitos precisam se tornar belas realidades, mas nem sempre é fácil.
Continua depois da publicidade
AN 100 anos: confira a página especial
Não bastassem os desafios de lidar com questões locais por natureza —tais como o trânsito, a educação das crianças, a formação de talentos para o mercado, a valorização do patrimônio histórico, novas áreas de lazer, dentre muitos outros—, não vivemos em uma cidade-estado. Somos afetados, influenciados e governados por leis, estruturas e dinâmicas que vêm de muito além dos limites do município.
É por isso que o localismo bem praticado é nossa melhor oportunidade não só para lidar com os assuntos próprios da cidade, mas também com as manifestações locais de problemas que afetam o Brasil e o mundo.
Quando circunscritas, as questões tendem a deixar o nível das abstrações estatísticas e ideológicas para ganhar uma concretude que torna seu enfrentamento possível. Podemos, então procurar conhecer indivíduos com nomes, endereços, famílias, crenças, histórias, dores, habilidades, sonhos e buscar potencializar sua capacidade de construir um projeto próprio de vida e participar ativamente da comunidade.
Educação, mobilidade, economia e lazer: os desafios para a Joinville que queremos
E é a partir daí que problemas importantes podem ser resolvidos.
Vou deixar aqui um exemplo.
No Brasil, segundo o World Poverty Clock, 5% da população vivem abaixo da linha da pobreza, isto é, com menos de US$ 2,15 (aprox. R$ 11,00) por dia. Em janeiro de 2022, a Secretaria de Assistência Social de Joinville publicou que, desses cerca de 11 milhões de brasileiros, mais de 26 mil sobrevivem em Joinville, algo em torno de 4% dos habitantes da cidade.
Continua depois da publicidade
São 9.270 famílias cadastradas e participantes de programas sociais do governo. Muitas delas, também são atendidas por organizações filantrópicas, distribuídas nos bairros periféricos. É uma pobreza crônica, implacável e muito difícil de superar.
Por outro lado, a maior cidade de Santa Catarina também tem muitos clubes de serviço, entidades de classe, instituições de ensino, organizações religiosas, condomínios, grêmios recreativos, empresas e outros tipos de organizações cujos integrantes podem e devem se mobilizar. O objetivo maior não deve ser reunir e distribuir cestas básicas, mas diminuir a necessidade desse tipo de assistência social.
Essas organizações são ativos sociais que podem, por exemplo, potencializar as boas políticas públicas e os esforços de quem já combate a pobreza.
A Joinville dos próximos 100 anos será melhor na medida em que conjugarmos nossos esforços pelo bem comum e, assim, nos tornarmos mais democráticos.
Continua depois da publicidade
Democracia é um modo de viver controlado por uma fé efetiva no potencial da natureza humana — John Dewey.

Leia também
Leitores relembram momentos marcantes que viveram com o AN no centenário do jornal
Acervo do AN é o mais procurado no Arquivo Histórico de Joinville; saiba como visitar
Linha do tempo: veja os fatos que marcaram os 100 anos de história do AN