*Artigo por Mário Sant’Ana
Esse é o nono texto da série “A evolução da democracia”, leia aqui o último publicado.
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“Educar a democracia […] é o primeiro dever imposto nos dias de hoje aos que dirigem a sociedade.” — Alexis de Tocqueville.
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O filósofo e político francês não defende nessa citação que as pessoas sejam educadas para o exercício democrático, mas que os líderes eduquem a democracia. Mais à frente, no mesmo parágrafo, o Conde de Tocqueville defende a importância de “adaptar o governo [democrático] aos tempos e aos lugares; modificá-lo de acordo com as circunstâncias e os homens”.
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O significado do termo latino educareé preparar para a vida, para o mundo que existe. É prioritário, portanto, que os líderes preparem e adaptem as instituições para a vida das pessoas e das comunidades de hoje.
Recentemente, participei de uma reunião do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) da localidade em que moro. Na sala de aula da escola municipal anfitriã do evento, cerca de 30 adultos ouviram atentos as importantes explicações dos policiais e dos vereadores sobre os desafios da segurança e o que têm feito para superá-los.
Essa prestação de contas é necessária e bem-vinda, mas, um blog da comunidade poderia reunir essas informações e grupos de WhatsApp fazê-las circular com mais eficiência, para mais pessoas, por muito mais tempo. A oportunidade de ter os cidadãos ali reunidos teria sido mais bem aproveitada se, por exemplo, equipes fossem formadas para buscar soluções para os problemas de segurança da nossa comunidade.
Cinco minutos antes do horário previsto para o encerramento da reunião, as autoridades terminaram suas falas e quiseram saber se os moradores tinham perguntas ou comentários a fazer.
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Mui respeitosamente, um homem agradeceu as informações compartilhadas e lamentou que não havia tido tempo para os demais que ali estavam contribuírem para a solução dos problemas de segurança daquela localidade, alguns citados pelos policiais e vereadores.
Como a falta de câmeras espalhadas no território havia sido apontada pelo delegado como um problema para maior efetividade em suas investigações, o cidadão sugeriu que a própria comunidade adquirisse e instalasse as câmeras. “O senhor precisa dos equipamentos e não podemos esperar pelos trâmites do governo. Vamos resolver nós a questão.”
Imediatamente, outro se mostrou disposto a contribuir na instalação das câmeras; uma mulher se levantou e expressou sua preocupação com o comportamento de motoristas irresponsáveis e possíveis remédios para o problema; alguém lamentou o assalto que sofrera e detalhou as medidas que adotou para evitar que o trauma se repetisse; preocupações com a segurança dos estudantes na volta para a casa foram manifestas acompanhadas de possíveis medidas para mitigar as ameaças.
A sala de aula se inverteu. As pessoas queriam contribuir, tinham conteúdo para isso e a reunião se estendeu por uma hora além do horário previsto. Vizinhos saíram dali conversando, discutindo o que podiam fazer pela comunidade e pelas suas famílias.
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A energia estava ali e foi acionada. As lideranças daquele Conseg, portanto, devem, encontrar a melhor maneira para que as informações sejam veiculadas, para que as pessoas contribuam com suas percepções e as ideias se convertam em ações concretas, não apenas em uma lista de desejos, apelos e reinvindicações.
Educar a democracia é preparar as instituições para o governo do povo: os indivíduos e as comunidades que essas organizações devem servir. Esse continua sendo, nos dias de hoje, o primeiro dever imposto aos que dirigem a sociedade. É um desafio de competência e de compromisso com a Democracia.
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