*Artigo por Mário Sant’Ana
Sétimo texto da série “A evolução da democracia”. Leia aqui o primeiro artigo, aqui o segundo, aqui o terceiro, aqui o quarto, aqui o quinto e aqui o sexto.
Continua depois da publicidade
A democracia efetiva requer a combinação dos esforços de cidadãos competentes e interdependentes, em um ambiente de pouca desigualdade.
> Acesse para receber notícias de Joinville e região pelo WhatsApp
Uma sociedade saudável não é obra de um governo, mas o fruto do engajamento perene de cidadãos que sabem o que fazem e sabem fazer juntos. Não apenas aderiram a uma proposta, mas são competentes.
Continua depois da publicidade
A necessidade provoca a participação. Além de serem capazes de contribuir, os indivíduos engajam com mais eficácia quando precisam de valores existentes na comunidade: recursos econômicos, proteção, habilidades, inteligências, sabedoria, companhia, reconhecimento, boa vontade, afeto, etc. Nesse contexto, os cidadãos precisam uns dos outros, ou seja, são interdependentes.
Esse ambiente prosperará mais francamente se houver paridade de condições. O diálogo útil à democracia depende que os cidadãos se percebam como semelhantes, ou seja, exista entre eles pouca desigualdade.
Onde me criei, quando ameaçava chover, por exemplo, uma mulher que percebesse que a vizinha não estava em casa, recolheria as roupas dos varais das duas famílias. Quando a que estava ausente retornava, encontrava seus itens dobrados na casa da sua benfeitora. O favor seria retribuído de alguma forma. Precisávamos uns dos outros e, por isso, cativávamos os vizinhos, respeitávamo-nos mutuamente e cultivámos laços de amizade.
Naquela pobre e violenta localidade carioca havia interdependência e a desigualdade era pequena, mas não sabíamos unir esforços para melhorarmos nossa condição socioeconômica. Em situações assim, a democracia não produz avanços por faltar competência.
Continua depois da publicidade
Nos bairros e condomínios mais abastados, o risco de violência entre vizinhos é quase inexistente. Inexiste também a necessidade de unirem forças para, em mutirão, fundirem a laje de uma casa na comunidade, de alguém deixar o filho sob os cuidados de outra família para ir ao médico, e que, se chover enquanto estiver fora, alguém recolha suas roupas.
Felizmente, essas pessoas têm recursos para contratar construtoras bem equipadas, empregados para cuidar das roupas e dos filhos, ou conseguem programar suas saídas para horários em que as crianças estejam em alguma atividade supervisionada, enquanto as roupas secam em secadoras elétricos.
Entre esses indivíduos competentes, a desigualdade é pequena, mas não se percebem oportunidades e necessidades que levem à cooperação. Em situações assim, a democracia não produz avanços por faltar interdependência.
No próximo artigo, falaremos de alternativas para superar as restrições à democracia participativa.

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tank Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br.
Continua depois da publicidade