*Artigo por Mário Sant’Ana
“Maus resultados provêm, em última análise, de decisões mal tomadas.” — Célio Luiz Valcanaia (PhD)
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A síntese é dura, certeira e algo que os verdadeiros líderes reconhecem com sobriedade. Internalizam a máxima com origem no pôquer e no Velho Oeste: “The buck stops here!”, ou, em português contemporâneo, “Eu assumo o BO!” (às vezes, literalmente).
Quando erra o tiro, o verdadeiro líder não culpa o alvo. Assume a responsabilidade pelos resultados e, portanto, pelas decisões que os produziam.
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“A decisão é o resultado do encontro da informação com o decisor”, explica Valcanaia.
Outra síntese inteligente, mas que exige mais reflexão que a primeira. Quem lidera, decide e, portanto, assume as consequências, lida com informações e com a subjetividade humana, variáveis que se potencializam mutuamente e sobre as quais há pouco ou nenhum controle.
Para Jimmy Wales, um dos fundadores e atual detrator da Wikipédia, a plataforma não passa de “um bom ponto de partida para informações atuais sobre uma grande variedade de tópicos”. Segundo ele, cresce o número de profissionais remunerados para inserir e editar conteúdos na enciclopédia online colaborativa e é difícil aferir a qualidade dessas intervenções.
Wales não é o único a não confiar na plataforma que ajudou a criar. Marcia DiStaso, da Universidade do Estado da Pensilvânia, estudou as informações disponibilizadas na Wikipédia sobre 1284 empresas. Os estudos apontaram que 60 por cento dos artigos analisados continham erros factuais.
Diante de decisões de peso, é comum que pessoas em posições de liderança recorram a especialistas no assunto em pauta, para melhor fundamentarem suas análises e escolhas. É preciso ter cuidado com isso também.
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Em 2007, as três principais agências de classificação de risco de crédito, Fitch Ratings, Moody’s e Standard & Poor’s, (The Big Three) consideraram como qualidade máxima (AAA) produtos financeiros que, dias depois, provaram ser podres. Na mesma toada, instituições financeiras tiveram suas falências decretadas menos de uma semana depois de receberem dessas agências notas altíssimas (pelo menos A2).
Foram erros grosseiros, considerados por muitos fraudulentos, que contribuíram para devastação das poupanças de dezenas de milhões de pessoas e para a formação de uma crise de dimensões globais, com prejuízos estimados em trilhões de dólares.
Questionados pela comissão do Congresso dos EUA instalada para investigar as causas da Grande Recessão, os executivos das Big Three alegaram que as classificações de risco de crédito não devem ser consideradas de forma objetiva, mas são meras opiniões e, portanto, estariam protegidos pelas leis que garantem a liberdade de opinião e expressão. Tudo indica que as opiniões e as decisões que levaram ao crash de 2007 foram contaminadas pela ganância dos líderes envolvidos.
Competência e confiabilidade são atributos essenciais que devem ter os decisores e seus conselheiros. Como evitar, porém, os efeitos colaterais que podem ter os interesses (legítimos ou ilegítimos) dessas pessoas?
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Os estudos de Valcanaia sugerem a formação dos “Círculos de Confiança”, como ele explica:
“Funciona como um grupo de ajuda mútua em que cada um dos componentes pode discutir com seu Círculo de Confiança sobre suas principais dúvidas. Esse grupo está protegido por acordos de confidencialidade e pauta suas atividades na confiança e na ajuda de forma desinteressada.”
Sem vínculos de subordinação ao líder nem interesses em jogo na coisa sendo decidida, as opiniões, ideias e sugestões dos integrantes do círculo de confiança servem para enriquecer e oxigenar a análise das situações. A decisão, contudo, continua sendo de quem lidera.
Ideia para tema de (pós-)doutoramento: “Funcionaria também na esfera pública?”
Clique aqui para ler a íntegra da dissertação de doutoramento de Célio Luiz Valcanaia: “A Solidão do Poder: o impacto de um círculo de confiança no processo de tomada de decisão”

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tank Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br
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