*Artigo por Mário Sant’Ana

“Aprender não é o produto do ensino, mas da atividade dos educandos.” — John Holt.

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Faz sentido. Muito do que é ensinado não é aprendido e não é difícil identificar uma infinidade de coisas que aprendemos sem o auxílio de um processo formal de ensino.

Como, porém, conciliar as conjunturas e as estruturas atuais com o processo de aprender particular de cada indivíduo?

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Este é o primeiro de uma série de artigos sobre a educação. O tema não é trivial e traz desafios aos quais devemos encontrar respostas, mas, antes, precisamos fazer as perguntas certas, como acredito ser a do parágrafo anterior.

Aqui vai outra: “Estamos falando das mesmas coisas?”

Resposta: Depende de como entendemos certas palavras, tais como: escola, educação, ensinar, aprender e muitas outras. Significados mudam com o tempo e com o lugar. Mudanças são inevitáveis. Não é possível melhorar e progredir sem mudar, mas nem toda mudança se traduz em melhorias e progressos.

Escola, (σχολή | skholḗ, para os gregos antigos), significava tempo para o lazer, recreação e descanso. Não é mais assim. Para o brasileiro de 13 anos, por exemplo, quer dizer que, no auge da ebulição hormonal, seu corpo deve permanecer de quatro a seis horas por dia sentado, enfileirado, uniformizado, silenciado, imobilizado, em um ambiente fechado e com poucas cores, tendo que memorizar coisas difíceis de interrelacionar, tais como: as funções das mitocôndrias, as características das orações subordinadas substantivas subjetivas, os produtos notáveis e os principais acontecimentos do Segundo Reinado.

Em latim, educar (educere) é “guiar para fora”. O educador deve ser, portanto, quem ajuda o educando a encontrar o seu limite para ultrapassá-lo e se desenvolver.

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Desenvolver (lat. des+involvere) quer dizer “tirar o invólucro” para permitir o contato com o que está no lado de fora. Invólucros servem para proteger de ameaças, aquilo que tememos, como, por exemplo, o desconhecido. Quando nossos invólucros são corretamente removidos, somos expostos à luz da maneira certa, enfrentamos temores e, assim, aprendemos.

Aprender (lat. apprehendo) significa tomar para si, adquirir, apropriar-se. Vamos ao nosso limite e nos apropriamos de algo que estava fora e passa a fazer parte do nosso domínio. É por isso que quando sabemos algo muito bem dizemos que dominamos o assunto.

Quando somos adequadamente guiados até nossos limites e nossos invólucros corretamente removidos, somos iluminados, enfrentamos o desconhecido e assim desenvolvemos habilidades, comportamentos, gostos, inteligências, relacionamentos e comunidades.

A meu ver, o propósito maior da educação é proporcionar ao educando aprender bem.

E aí começam as infindáveis contradições do que chamamos de sistemas educacionais.

Quem vai para a escola para aprender, encontra estruturas que privilegiam o ensinar: ensino fundamental, ensino médio, ensino técnico, ensino superior, ensino à distância, ensino profissionalizante e por aí vai.

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Ensinar (lat. insignare)é “imprimir sinais”, gravar algo em algum lugar. Neste contexto equivale a “escrever” na mente de uma pessoa. É o resultado de uma ação de fora para dentro, tipicamente intencional. Para que algo nos seja ensinado, é necessário que um agente externo ultrapasse os limites do que sabemos e imprima algo em nossas mentes, realize uma instrução (palavra que, também em latim, quer dizer construção).

Ao nos apropriarmos de algo que nos é ensinado, traduzimos em saber aquele sinal impresso em nossas vidas, assimilamos aquela construção feita em nosso domínio. Assimilar é absorver para converter em energia. Quando isso não acontece, os elementos estranhos são descartados ou ficam ali, como ruínas inúteis ocupando lugar precioso.

Os educadores devem, portanto, se especializar na arte de liderar os educandos no cultivo de bons hábitos de aprendizagem. É importante que os aprendizes saibam que invólucros devem remover, o que importar para o território de suas mentes, o que não devem assimilar e como não permitir que recursos valiosos que lhes foram confiados pelo ensino degradem por falta de uso ou sejam mal utilizados.

Encerro aqui com a pergunta que servirá de base para o próximo artigo desta série: “O que deve ser feito para crianças e adolescentes aprenderem bem o que é mais importante?”

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Mário Sant'Ana
Mário Sant’Ana escreve no AN às terças (Foto: Arquivo)

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tank Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br