É ruim quando somos mal interpretados e, por isso, prejudicados. É pior quando mentiras são ditas para nos fazer mal. Mas nenhuma traição se compara a quando nossas palavras são deturpadas com o propósito de nos arruinar. Esse tipo de traição pode arrasar uma pessoa.
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Ao tratar do tema da deslealdade no poema “Se”, Rudyard Kipling eleva a barra da resignação. Ensina ao filho que um bom homem é capaz de reconstruir com “ferramentas desgastadas” —como diz o original em inglês— obras que tudo lhe custaram, mas que foram destruídas por gente desleal que usou como arma a sinceridade do próprio bom homem.
Se for capaz de sofrer a dor de ver mudadas em armadilhas as verdades que disse; E as coisas, pelas quais deu a vida, estraçalhadas, e refazê-las com o bem pouco que lhe reste; […] Será um Homem, meu filho.
A força e do valor para isso advêm da decisão de não se deixar pautar pelo mau-caratismo alheio.
Ao longo do poema, Kipling avisa ao filho que a vida com frequência é dura, que os homens muitas vezes são traiçoeiros e as decepções não serão incomuns na sua jornada. Entretanto, admoesta o rapaz a escolher fazer o bem e agir corretamente não por ingenuidade, mas pela coragem de ser leal aos seus valores, apesar das circunstâncias.
Confira a íntegra do poema.
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Artigos desta série
• De homem para homem | Introdução
“Bom homem” não é um título entregue no fim da vida aos merecedores. É algo vivo que ganha forma ao longo da jornada
Quem quer se tornar um bom homem deve enfrentar crises, assumir responsabilidades, ouvir as pessoas e aprender com as experiências.
O bom homem não se furta de ser virtuoso, mas sabe que essa decisão o expõe a males mais sofisticados, silenciosos, mais difíceis de ser diagnosticados e, consequentemente, mais perigosos.
• Sobre frouxidão de caráter e a falta de ação
O dicionário equipara não agir a “frouxidão de caráter”. Por isso, não é possível, ao mesmo tempo, ser um bom homem e não fazer nada. Os bons homens agem porque entendem que se a ação aumenta a possibilidade do pecado; a ausência dela o garante.
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• O bom homem na era das “celebridades” e “cancelamentos”
O bom homem reconhece erros e acertos, mas, principalmente, sabe traduzi-los em ações para o bem. Quando erra, assume a responsabilidade, busca fazer as reparações cabíveis e segue viagem. Quando acerta, comemora a conquista, aceita os parabéns oferecidos com sinceridade, manifesta gratidão pelos que contribuíram para a vitória (inclusive os fatores alheios à sua vontade) e segue viagem.

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tank Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br