Você conhece o Mário?

Com a fala mansa e o sorriso discreto, o candidato a vice de Napoleão Bernardes (PSDB), aos olhos de quem não tem lá tanta intimidade, parece ser um cara tranquilão, da paz. E ele é. O nome pode até rimar com autoritário, mas isso é algo longe de resumir aquele que poderá ser o braço direito do próximo prefeito de Blumenau. Aliás, se tem uma função que gerou repercussão nos capítulos que marcaram o ano de 2016 foi a de vice.

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Primeiro porque na terra da Oktoberfest, esse será um cargo sem contracheque, sem holerite, sem folha de pagamento. Como consequência, um homem cuja mascada mensal virá de outro lugar e não da prefeitura — a não ser que ele venha a assumir alguma secretaria, mas isso é assunto para depois. Segundo porque Michel Temer (PMDB) mostrou a todos, sejam eles destros ou canhotos, que é necessário prestar a atenção em todos os nomes que compõem uma chapa majoritária antes de apertar aquele botãozinho verde da urna.

Politicamente falando, o comportamento de Mário Hildebrandt (PSB) no plenário se assemelha com aquilo que ele é na, digamos, vida real. Entrar no seu gabinete é um convite à tranquilidade, com fotos da família, presentinhos das filhas adotivas e dedicatórias. Mas não se iluda com a voz macia, lenta, calma e com o rostinho de quero-ser-seu-amigo. Ele sabe cobrar.

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Ô, se sabe.

Pulso firme, decide as coisas quando necessário, mas sempre com seu estilo livre, leve e solto, sem criar atritos. Há quem diga que ele é à prova de fogo, algo que de certa forma é interessante para quem se acostumou a apagar incêndios às margens da Rua das Palmeiras. Quase um bom, bom, bom, bom, bombeiro, como dizem Munhoz e Mariano.

Cantemos.

Religioso, Hildebrandt é frequentador da igreja Missão Evangélica União Cristã. Tirá-lo do sério? Só se mexer com as meninas adotivas que ele trouxe para sua vida há cinco anos, ou com a esposa que conquistou em 2000, quando era o único homem ao lado de 54 mulheres no curso de Serviço Social, na Furb. Mas tem um detalhe: ele se transforma quando o assunto é Hollywood.

Um olhar desatento pode induzir que ele curta filmes como Uma Linda Mulher, Ghost, Dirty Dancing, ou qualquer longa da década de 1950 que mostre o amor em preto e branco. Nada disso! É Steven Seagal, o implacável dos filmes de ação dos anos 1990, que ocupa a tevezona de 50 polegadas na sala onde a família gosta de "acampar" para comer um milho invertido salinizado sextas e sábados à noite.

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Não é o cara mais ligado em futebol. Diz torcer pelo Flamengo, mas naquela coisa de "não sei se tá ganhando, não sei se tá perdendo, só sei que sou Mengão". Esporte? Apenas se forem os motores roncando da Fórmula 1 que, por vezes, o fazem interromper o sono da madrugada para acompanhar corridas em Cingapura, Japão, ou qualquer outro longínquo lugar. E já que ele não gosta muito de jogar uma pelada quartas-feiras à noite, seu hobby é apreciar orquídeas.

Sossegado, cal-ma-men-te, pode passar horas curtindo seu miniorquidário nos fundos de casa. Ou isso, ou investir na tentativa de ser um marceneiro, "cortando coisas", como brinca Sueli, a companheira de 15 anos.

Hildebrandt sabe, no final das contas, que terá de deixar de lado a vida legislativa, exercida nos últimos anos, e trocá-la pela ação no Executivo, caso Napoleão seja reeleito. Mas, assim como é sereno em quase tudo na vida, entende com tranquilidade o fato de largar a cadeira da Câmara para ocupar um assento reservado, quieto, discreto, camuflado, responsável mais por articulação do que por aparição.

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Basicamente uma função que encaixa com quem Mário é.