Na noite desta quinta feira, 29, vivenciei um dos momentos mais emocionantes de minha vida profissional e pessoal. Brindado com o convite para ser o Mestre de Cerimônias do primeiro evento-teste de Santa Catarina durante a pandemia, com a apresentação da Camerata.
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Cheguei cedo ao CIC. O relógio marcava em torno de 18h50. A abertura das portas do Teatro Ademir Rosa estava marcada para às 19h30 e o espetáculo estava previsto para iniciar às 20h.
Não me surpreendi pela gentileza como fui recebido pelo responsável pela portaria do CIC, que além de me orientar onde estacionar, fez questão de me acompanhar até a porta de entrada da produção, devidamente protegido por máscara dupla e proteção tipo face-shield. Percebi que ele estava bastante eufórico e não fez questão de esconder sua emoção.
Me disse que a impossibilidade da realização de eventos transformou o CIC num “cemitério” e que ele não via a hora desse retorno.
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— Adoro estar perto de gente seu Mário e faz um bom que estou sozinho por aqui — disse.
Assim como eu, todos os integrantes da produção e apoio, músicos e a plateia formada apenas por moradores da Grande Florianópolis, completamente imunizados com as duas doses ou dose única da vacina contra a Covid 19, respeitando o intervalo após a vacinação.
Todos nós passamos pelo teste RT-PCR, sob supervisão de especialistas e professores da Unisul e Univali, as duas instituições universitárias de Santa Catarina que voluntariamente se dispuseram realizar o apoio, a orientação, a coleta de dados e a tabulação em que se transformou o que, para muitos seria apenas um grande evento musical.
Nos camarins, músicos já afinavam seus instrumentos e o pessoal técnico dava os últimos retoques para que tudo saísse como o previsto. Mas ninguém escondia a emoção que podia ser sentida em cada cumprimento (mesmo à distância), cada fala e cada olhar, uma vez que a utilização das máscaras PFF2 era equipamento obrigatório durante toda a permanência nas dependências do CIC.
E mesmo com máscaras, sabemos quando o outro está sorrindo — basta direcionar olho-no-olho.

Até para a plateia havia essa exigência e caso não estivesse com a máscara exigida pelo experimento científico, o espectador recebia a máscara correta para que todos os participantes do evento portassem o mesmo equipamento, ratificando a seriedade científica de sua organização.
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Além disso, outros aspectos importantes foram previstos. Todos tinham lugares previamente determinados na plateia, distanciamento de 1,5m, poltronas marcadas, regiões determinadas por cores na plateia com portões específicos de entrada e saída e a não permissão para o consumo de alimentos ou bebidas dentro do Teatro.
E o experimento estava apenas começando. No próximo dia 3 de agosto, todos os participantes deverão retornar ao CIC para um novo Teste RT-PCR que irá confirmar a condição de todos e até onde o evento interferiu na condição de saúde de cada um.
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Sobre o maravilhoso espetáculo proporcionado pelos músicos da Camerata Florianópolis, sob a impecável regência do Maestro Jeferson Della Rocca e a participação especial dos solistas Iva Giracca (violino) e Alberto Heller (piano), apenas a sempre surpreendente capacidade de superar as apresentações anteriores. Espetacular.
E para o público que, emocionado e num silêncio contrito, apenas reforçou com exemplar conduta, a frase de Aldous Huxley que afirma que: “Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música”.
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Não bastasse a qualidade musical da Camerata, os mínimos detalhes previstos pela organização e o clima de reencontro de um público com a música e a cultura, a noite ainda reservava outro momento marcante.
A apresentação do cantor, compositor e pianista Everton Leonardo Drechsler (conhecido pelo nome artístico de Jack), que apresentou uma composição feita em homenagem ao pai, no dia em que, internado com a Covid 19, era entubado e lutava desesperadamente pela vida. Sua emoção ao traduzir a melodia contagiou a todos.
Felizmente o pai sobreviveu e hoje orgulha-se do carinho recebido na inspiração do filho e ao vê-lo dividir com a plateia sua emoção.
Para o Maestro Jeferson Della Rocca que, desde 12 de março de 2020 não se apresentava no CIC, a noite foi de felicidade e esperança. Finalmente a Camerata pôde estar em contato com o seu público mais uma vez. E ele não se conteve, ao conduzir o “bis” pedido pela plateia, trazendo o maravilhoso tango composto por Carlos Gardel e La Pera – Por uma cabeza (trilha do filme Perfume de mulher).
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Mais emoção que tudo isso reunido, foi acompanhar a saída do público das dependências do teatro num misto de organização (fila após fila), êxtase e gratidão pela noite vivida.
Que tenha sido esse o primeiro de muitos eventos que possam acontecer na medida em que a Pandemia se transforme num capítulo triste da história da humanidade.