Há algum tempo o jornalista Luiz Fernando Janot escreveu um artigo no qual comenta que a sociedade brasileira vive um dilema curioso. Diante da necessidade de tomar decisões contraditórias, a escolha geralmente recai sobre a proposta que oferece resultados mais imediatos. Não importa se tal decisão pode trazer consequências negativas de longo prazo. O que interessa é o aqui e o agora.
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Pois, infelizmente, essa continua sendo uma prática comum nas decisões do poder público. A obsessão de realizar obras vistosas, mesmo que de baixa qualidade, tem sido uma constante nos dias de hoje. Partindo do pressuposto de que tudo é descartável, barbaridades são cometidas em nome de uma ideologia focada apenas na eficiência produtiva e nos seus resultados imediatos.
Os jornais publicam diariamente os efeitos nocivos desse tipo de atitude. Houve época em que as obras públicas extrapolavam os seus objetivos específicos e algumas se transformavam em marcos do desenvolvimento urbano da cidade. Obviamente que naquele tempo já existiam falcatruas, tanto na contratação dos serviços como durante a execução das obras. A sociedade brasileira está longe de ter status financeiro para arcar com o ônus dessa equivocada pretensão.
Enquanto os responsáveis — diretos e indiretos — por esse conjunto de desatinos permanecerem impunes, não há dúvida de que a farra com o dinheiro público irá continuar indefinidamente.
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Na edição desta terça-feira da Hora, você vai encontrar uma matéria especial sobre obras inacabadas na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Podem até não representar as tais obras vistosas ou grandiosas como as comentadas pelo Luiz Fernando, mas mesmo assim, são obras importantes para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Obras que tiveram início na administração anterior e que aguardam até hoje a complementação. E pergunto: até quando será assim? Sem qualquer responsabilidade de quem saiu ou entrou?
Como construir, por exemplo, uma UPA em qualquer cidade que seja sem saber se o próximo administrador vai ter condições de equipá-la? Ou se a contratação de pessoal não fará ultrapassar a margem estabelecida pela Lei responsabilidade fiscal? O problema não será dele, pois entende que sua parte já fez. O novo administrador que assumir que se vire?
Ora bolas, está mais do que na hora de que as administrações pensem além dos seus anos de mandato e se responsabilizem por uma cidade futura mais humana, mais adequada social e moralmente e sobretudo uma administração mais responsável. Antes de propor qualquer coisa, um novo administrador deveria terminar o que o anterior deixou por fazer.
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