Transformar uma cidade para que a filha Carolina pudesse fazer o que para a maioria das pessoas é cumprido sem maiores dificuldades. Este se tornou o maior desejo do arquiteto Mário Cezar da Silveira, 61 anos, desde que a primogênita nasceu e foi diagnosticada com paralisia cerebral. O direito de ir e vir não poderia ser aplicado na Joinville de 30 anos atrás, despreparada para possibilitar que uma cadeirante pudesse cumprir o preceito constitucional.

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A nova vida que surgia na família fez com que o arquiteto olhasse para as calçadas, veículos e locais públicos com os olhos de acessibilidade.

– De repente, eu percebi que mesmo o meu trabalho profissional não estendia às necessidades da minha filha.

Mudar este cenário para permitir que Carolina tivesse autonomia se tornou o grande sonho de Mário Cezar, não apenas como pai, mas como profissional. Parte dele foi realizada em 2014, quando um projeto assinado por ele foi premiado pelo Sinapse da Inovação, programa do governo estadual de apoio a ideias inovadoras, com apoio do Sebrae e execução da Fundação Certi. Mário recebeu recursos para construir o protótipo de uma escada que se transforma em rampa, permitindo o acesso de cadeirantes a palcos de todos os tipos sem causar constrangimentos. Atualmente, o projeto está em fase de aprimoramento.

– A Carolina dançava no grupo Segue e toda vez que precisava subir ao palco para se apresentar, era uma dificuldade. E para fazer arte, não é preciso de pernas, né?

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As mudanças na acessibilidade em Joinville, cidade à qual Mário Cezar decidiu retornar com a família quando Carolina ainda era criança, não aconteceram de uma hora para outra. As condições oferecidas durante a alfabetização da filha, em compensação, ajudaram muito para que a cidade fizesse a diferença na vida de Carolina, hoje formada em psicologia e professora concursada.

– Joinville foi fundamental na inclusão da Carolina porque a escola facilitou muito a adaptação, criando soluções para as necessidades dela.

Na última edição do Programa Sinapse da Inovação, novamente as lições de Carolina geraram inovação e mais uma parte do sonho de tornar o mundo mais acessível para a filha começou a ganhar formas. Desta vez, a família foi bem-sucedida com uma ideia de um lifter de transferência multifuncional criado para locomover, como uma espécie de guincho, pessoas com deficiência em atividades cotidianas, como ir ao banheiro, de forma mais prática. O equipamento deve passar a ser oferecido no mercado neste ano.

O que compete a Mário Cezar tem sido cumprido incessantemente. A maior luta ainda é fazer com que o poder público abrace a causa com mais afinco.

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– O que peço são condições básicas para ela ter autonomia. Pessoas como

a Carolina precisam de oportunidades, não de benefícios.