O casal se conheceu há 30 anos em uma boate, a antiga Phoenix, no Estreito, em Florianópolis. O episódio, contado com riquezas de detalhes e a troca cúmplice de olhares, parece que aconteceu ontem. Depois do encontro, Maria de Fátima Martins e Valci de Sousa Martins se casaram, tiveram dois filhos e, em 2011, passaram por um dos momentos mais difíceis do casamento: um tumor na mama esquerda de Maria, na época com 49 anos.

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Martins foi o primeiro a saber da doença e acompanhou a esposa em todos os procedimentos. Ia com ela a cada 21 dias fazer a quimioterapia no Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), em Florianópolis, por dois anos. Nas reuniões de apoio, caminhadas pelo Outubro Rosa e até na hora de levar lacinhos cor-de-rosa para os professores na academia de ginástica, o marido estava presente.

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E o auxílio não parou por aí. Ele cortava os temperos, ajudava na cozinha e a estender roupa para que ela não precisasse fazer força com o braço. Foi Martins quem raspou a cabeça da esposa quando a queda de cabelo se intensificou.

Ele acrescenta que com as mudanças no corpo da mulher, é necessário um período de adaptação. A retirada das mamas no início causou estranhamento, mas agora faz parte da vida do casal.

– Por mim ela nem precisaria colocar prótese – diz o marido.

Emir Benedetti, de 60 anos, acompanhou por cinco anos e meio à luta da esposa, Annemaria, contra o câncer de mama. Durante o período, fazia questão de não demonstrar fraqueza diante dela. Quando queria chorar ou desabafar, procurava os parentes próximos ou falava consigo mesmo diante do espelho.

– No limite do desgaste emocional, eu ia visitar familiares e depois voltava para casa.

Annemaria descobriu a doença em julho de 2005 e retirou a mama em dezembro do mesmo ano.

– Foi muito difícil, afinal, o seio é a parte que mais identifica a feminilidade – afirma.

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Benedetti conta que o apoio dele e dos filhos foi fundamental, já que ele era militar e passaram por 20 mudanças ao longo dos 34 anos de casamento. Para amenizar os impactos, pequenos gestos, como dar um beijo ou abraço, foram fundamentais para demonstrar afeto e fazê-la sentir-se melhor.

Em agosto de 2008, veio a notícia: uma metástase atingiu 14 pontos do corpo de Annemaria. Ela, que foi a primeira namorada de Benedetti, ficou impossibilitada de andar e, em agosto de 2010, o médico reduziu a dose de medicamento, porque Annemaria não aguentaria o tratamento. Quando o médico aconselhou a instalação de um tubo de oxigênio no quarto, Emir não aceitou:

– Não queria que ela sentisse que estava no fim, mesmo que às vezes dormisse 20 horas por dia.

Em 2010, houve o casamento do filho mais velho e o nascimento do primeiro neto.

– Ela segurou o bebê nos braços, olhou para mim e disse “agora podemos ir embora”. Ali ela se despediu de mim.

Annemaria faleceu depois de 12 dias, em dezembro de 2010.