Um sinal positivo com a mão para indicar que tudo estava bem. Essa é a última imagem que Jedeam Rafael Woznicza, 28, tem da esposa antes dela morrer em um grave acidente na serra da Vila Itoupava, em Blumenau, na manhã de sábado (29). Sirlei Araújo, 34, estava com a filha recém-nascida, Mabily Rafaela Woznicza, que também faleceu no local. O marido seguia em outro carro, à frente da companheira, e escutou o barulho da colisão contra um poste. Ao olhar para trás, percebeu que algo tinha acontecido. 

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Sirlei morava com o marido em Rodeio, no Médio Vale do Itajaí. Costureira desde os 14 anos, começou a trabalhar por conta própria há menos de seis meses. Assim, passava todo o tempo em casa, dividindo-se entre os cuidados com o filho de dois anos, os afazeres domésticos e a profissão que tanto gostava. Junto com Rafael, dedicava-se a buscar a renda necessária para fazer uma casa nova no terreno que compraram recentemente.

— Ela era uma pessoa tranquila, querida, uma ótima mãe. Você nunca via ela nervosa — recorda a cunhada, Rafaela Cezar.

A gravidez de Mabily não foi planejada, mas comemorada por Sirlei, que sonhava em ter uma menina para fazer companhia ao primogênito. A primeira gestação não foi fácil, a pressão alta fez com que o pequeno nascesse antes do esperado. Na segunda, porém, a bebê não só veio ao mundo no tempo correto como Sirlei conseguiu tê-la de parto normal, em 16 de maio. Foram três dias de preparação — e muitas contrações — no Hospital Santo Antônio, em Blumenau. Todos acompanhados por Rafael.

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Autônomo, um dos trabalhos dele é na empresa do irmão, em Massaranduba. Para não deixar Sirlei sozinha com os dois filhos depois da alta hospitalar, decidiu levá-la à cidade. Eles permaneceram na residência do irmão por alguns dias, onde receberam apoio e carinho de familiares:

— Eu fiz uma visita na quinta-feira. A Sirlei estava muito bem e feliz. Contou que sábado voltaria para casa e que segunda-feira retomaria o trabalho, ainda que aos poucos — revela a cunhada.

Marido prestou socorro

Como Rafael havia comprado um Fiat Uno naquela semana em Massaranduba e a mulher estava bem, o casal decidiu que cada um viria em um automóvel diferente. Sirlei pensou em trazer os dois pequenos, mas por algum motivo que não sabe explicar, Rafael disse que ele levaria o mais velho.

No trajeto, os dois trocavam gestos com as mãos para sinalizar que tudo estava bem. O marido permanecia entre 50 e 100 metros da esposa e não havia mais ninguém na rodovia. Antes de uma curva, Sirlei fez o sinal positivo para Rafael. O motorista então se concentrou na estrada. Momentos depois, ouviu um barulho. Pelo retrovisor, enxergou apenas a parte traseira do Uno. Desesperou-se.

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Com o filho nos braços, correndo às margens da rodovia, foi o primeiro a ver a colisão. Ambas ficaram presas às ferragens. Rafael percebeu que pela mulher não havia mais o que fazer, mas tinha esperanças de resgatar a menina. Foi ele e populares que empurraram o veículo de volta ao chão. O automóvel ficou preso ao poste pelo teto.

O homem não aguentou toda a situação e passou mal. Sentado no asfalto, tentando se recompor, recebeu a confirmação das duas mortes por um socorrista. Além do choque, teve que lidar com a desumanidade de curiosos, que tentavam filmar toda a cena.

— Eu gritava: “Para de filmar”! E depois disso tudo vi gente julgando minha esposa nas redes sociais, dizendo que a menina tinha que estar atrás ou que elas não deveriam estar sozinhas. Só eu sei o que aconteceu, só eu estava junto. É sofrimento demais — desabafa.

“A mãe e a mana foram morar no céu”

Acidente aconteceu na serra da Vila Itoupava
Acidente aconteceu na serra da Vila Itoupava (Foto: Bombeiros Militares, Divulgação)

Rafael não consegue entender a tragédia. Ele garante que ambos vinham na velocidade permitida e que não viu marca de frenagem no chão. Sirlei dirigia muito bem. Para o marido, ou ela passou mal por conta da pressão alta ou se distraiu com Mabily e não conseguiu fazer a curva.

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— Trocaria a minha vida pela das duas. Para meu filho digo que a mãe e a mana foram para o céu. Vou continuar a construção do nosso sonho (de empreender e ter a casa nova), mas está muito difícil — revela.

Mãe e filha foram enterradas juntas em Indaial neste domingo (30), cidade onde Sirlei morava com os pais antes de se casar, há cinco anos.