Mariana e Márcio são gêmeos. Acabaram de completar 18 anos, e o presente de aniversário que ambos pediram aos pais não poderia ser mais emblemático: a carteira de motorista. Ah, até que enfim a maioridade! Agora Mariana poderá sair com as amigas para as festas sem precisar pedir para buscá-la de madrugada e Márcio terá o carro da mãe para zarpar cedinho em busca das melhores ondas com os amigos. Esportista radical, ele prefere mil vezes um dia de surfe a uma noitada na balada.

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Primeiro dia de aula prática na autoescola. Mariana está supertranquila, não erra nenhuma marcha, estaciona direitinho e até esnoba na hora de dar a ré. Desde pequena é fascinada por carros, conhece marcas, modelos e motores. Dava shows nos carrinhos de choque nos parques da cidade, enquanto o irmão choramingava porque quase não conseguia sair do lugar. Ele gostava mesmo era de mar, natureza, bicicleta… Enfim, de calmaria. Era contemplativo. As máquinas poderosas nunca fizeram a sua cabeça. Foram criados juntos e do mesmo jeito, mas tinham personalidades bem diferentes – como quase todos os irmãos, aliás.

As aulas teóricas de trânsito foram tranquilas para ambos, mas a parte prática de direção estava se tornando um tormento para Márcio. Ele não tinha jeito mesmo para a coisa. Uma hora esquecia o cinto de segurança. Outra, não ligava a seta, ou o pisca-alerta. Ficou tão nervoso no dia da prova que cometeu vários erros e foi reprovado. Mariana, claro, logo estava com a carteira na mão.

O pior para Márcio foi aguentar a gozação dos amigos e da própria família.

– Como assim, um homem perder para uma mulher?

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– Não tem vergonha de a tua irmã saber dirigir e você não?

– Será que você é homem mesmo? No começo ele ficava chateado com as brincadeiras – até porque sabia que as pessoas eram realmente preconceituosas.

Até que chegou o dia em que decidiu encarar o fato de que não havia nascido mesmo para dirigir um carro, ainda mais numa cidade com trânsito intenso e perigoso como Florianópolis. Ficava tenso, tinha dores de cabeça e não via necessidade de passar por tudo isto só porque os outros esperavam dele esta atitude.

– Decidi ser eu mesmo e anunciei que não seria um motorista. Aquilo não era para mim – ele nos contou, cheio de orgulho por assumir publicamente a sua escolha.

Achamos bonito, mostrou que ele tem personalidade, ainda mais sendo tão novinho. Hoje, ele aceita feliz da vida as caronas da irmã, dos pais e dos amigos. Começou a namorar uma menina que também não gosta de dirigir, e eles não têm qualquer problema em andar de ônibus pela cidade, apesar de pertencerem a famílias ricas de Florianópolis. Os dois sabem que existem coisas muito mais importantes do que um carro do ano na garagem.

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