Só de pensar que teria que ficar em público, a estudante normalista Maria Thereza Böbel passava mal. Eram náuseas, mal-estares contínuos que traduziam a sua extrema timidez em ficar em público. Decidido a acabar com os males que o pai pediu para que tirasse a menina do magistério.

Continua depois da publicidade

Optou por colocá-la em outros estudos, como aprimorar o ensino de idiomas, inclusive a língua alemã. Aqui, acabavam-se os enjoos e começava uma relação de amor com a história de Joinville.

Com a interrupção, Maria Thereza não fez faculdade, mas nasceu historiadora pronta, sendo responsável por publicações indispensáveis para a história de Joinville. É dela, em parceria com a historiadora Raquel S, Thiago, os dois volumes de “Joinville – Os Pioneiros, documento e história”, levantamento que lista cada leva de imigrantes que chegou a Joinville.

Foi um trabalho de 18 anos e que impactou profundamente a história contemporânea. A partir dele, muitos descendentes tiveram, finalmente, conhecimento de sua chegada ao Brasil.

– Ela resgatou a história de muitas famílias e muita gente pode finalmente procurar pela sua origem – lembra a mãe.

Continua depois da publicidade

Maria Thereza traduziu minuciosamente centenas de documentos a partir do alemão gótico, que aprendeu a ler com Elly Herkenhoff, historiadora do Arquivo Histórico de Joinville na época, e que encontrou em Maria Thereza uma dedicada aluna.

Em 1989, a pesquisadora foi para a Alemanha para buscar mais documentação dos imigrantes. Além de Hamburgo, cidade portuária que foi o principal ponto de saída dos imigrantes na época, percorreu 15 cidades alemãs em busca de registros. Todas as suas pesquisas foram anotadas à mão, em uma pequena e minuciosa letra.

A historiadora Raquel S. Thiago, com quem Thereza escreveu os dois livros sobre a imigração, lembra até hoje do trabalho dela, debruçada sobre as listas de imigrantes.

– Suas traduções eram impecáveis. Não raras vezes Thereza recorria a enciclopédias, atlas e livros para evitar possíveis enganos de tradução – recorda a colega e amiga.

Continua depois da publicidade

Foram muitas as vezes que as duas pesquisadoras se divertiram com as histórias que acabavam sendo descobertas com a tradução. Elas passaram a existir para a história joinvilense a partir daquele momento.

Para a amiga, fica a saudade de tempos bons de trabalho e amizade. Para a mãe, a falta é mais além.

– Até hoje, escutar música me dói, porque não tenho a companhia dela – lembra a mãe Jutta. As duas compartilhavam um gosto especial pela música clássica.