Aos 80 anos, a escritora Maria de Lourdes Krieger está entusiasmada com o lançamento da nova edição de “Um amigo muito especial”. A catarinense destacou-se no país pelo conjunto de obras para o público infantil e jovem. Publicou 16 livros, alguns com premiações, como o Cruz e Souza de Literatura 1997, promovido pela Fundação Catarinense de Cultura de Santa Catarina.
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A primeira edição de “Um amigo muito especial” foi publicada há 40 anos. A autora dedicou-se, ano passado, a fazer uma revisão e atualizar a linguagem para a reedição. Ela explica que foram apenas algumas substituições para adaptar o vocabulário, como trocar velho por idoso, por exemplo.
– Antes, chamar uma pessoa com mais idade de “velha” não era considerado desrespeitoso – justifica a escritora.
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Finalizado o trabalho de revisão, ela aguarda a editora Cuca Fresca lançar a nova versão ainda neste ano. O livro conta a história do menino Lauro que, com o desaparecimento do pai, sentia-se muito solitário, até arranjar uma companhia inusitada, um elefante. Por trás do enredo infantil, a narrativa remete a uma vivência difícil. No período de ditadura no Brasil, a casa passou por uma revista minuciosa porque o irmão era procurado pela polícia, acusado de incitar uma greve.
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Aos fragmentos da própria história, a autora recorreu à imaginação para compor as narrativas infanto-juvenis. Nasceu e cresceu na cidade de Brusque, no Vale do Itajaí, em 1941, em uma família de nove irmãos. Três deles também escreveram livros, inclusive o arcebispo dom Murilo Krieger. O prazer pela leitura era cultivado em casa, com os pais, que mantinham o hábito. O pai foi inspetor escolar e a mãe, professora. Para reforçar o orçamento familiar, abriram uma livraria, o que incentivou ainda mais os filhos a lerem.
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Ainda com 12 anos, Maria de Lourdes passou horas com o clássico “A metamorfose”, de Franz Kafka.
– Não havia compreendido, mas a boa literatura fica na gente, como uma semente. Aos 16, quis reler e achei incrível – recorda.
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Dos pais também herdou a dedicação ao magistério. Foi professora durante 33 anos. Primeiro, no ensino fundamental e médio em Brusque. Depois de cursar Letras na Universidade Regional de Blumenau (furb), mudou-se para Florianópolis para fazer pós-graduação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e lecionou no Colégio Aplicação, no Instituto Federal de Santa Catarina e na UFSC.
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Publicou as histórias criadas por ele no suplemento infantil “O Estadinho”, do jornal “O Estado”, e também colaborou no periódico “O Município”, de Brusque. Algumas delas ganharam versões ampliadas em livros. Em “Ana levada da breca” relata a história da menina criativa e entusiasmada, que decidiu ser comportada e quietinha como todos queriam. Recebeu, em 1989, menção honrosa no Prêmio Luiz Jardim, da União Brasileira de Escritores.
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Para os jovens, uma das obras de destaque é “Lembranças”, incluída na lista dos 10 livros recomendados para o vestibular de 2004, da UFSC. Na narrativa, a protagonista se divide entre as próprias dificuldades financeiras e a vida sem restrições de pessoas com quem convive.
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A convite das escolas, Maria de Lourdes Krieger fez viagens pelo Estado para bate-papos com estudantes. Também responde a todas as cartas dos leitores. Destaca que aproveitou muito dessas interações para compor histórias, assim como o contato que teve com os alunos quando lecionava. Aos 80 anos, a escritora empolga-se ao recordar esta convivência próxima com as crianças e jovens, que sempre manterá por meio dos livros.
*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
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