A auxiliar operacional Josiane Delfino, 42 anos, lembra exatamente o dia que começou a varrer há três anos a General Bittencourt, uma das ruas do centro histórico de Florianópolis. Ela já tinha ouvido dos colegas que o local era perigoso e muito mal cuidado, mas isso não intimidou a funcionária da Comcap.
Continua depois da publicidade
Josiane começou a varrer a rua até perceber um morador em situação de rua deitado no chão. Foi quando ela se abaixou, pediu licença e solicitou que ele se levantasse, argumentou que ele poderia deitar em uma calçada muito mais limpa depois de varrida. Surpreso com o gesto, o homem cedeu o espaço para que ela fizesse seu trabalho. Este ato simples de gentileza foi o primeiro para mudar a realidade daquela rua.
A margarida — como são chamadas as mulheres que varrem as vias da cidade — trabalha há 17 anos na Comcap e se orgulha muito do que fez pelos moradores de rua e pela General Bittencourt. Com o tempo, empatia e persistência, conseguiu convencê-los a tomar iniciativa e manterem o local limpo. Em troca, ganhou respeito e amizades.
Dizem que a flor margarida é símbolo da bondade, da sensibilidade e do afeto. E a vivência de Josiane representa isso, segundo quem convive com ela. A auxiliar operacional é conhecida pelos guardadores de carros, por quem caminha e vive por ali. Já levou morador em situação de rua para tomar banho na própria casa, ajudou a encaminhá-los para o posto de saúde quando doentes e lhes deu conselhos e o que comer. Ela também deu sacos para que os moradores guardassem os pertences e evitassem que fossem recolhidos. Diz que não se sentiu intimidada neste convívio.
Continua depois da publicidade
— Nunca dei dinheiro. Se eles precisam de alguma coisa, tento ajudar. Já indiquei alguns para trabalhar como carregadores de frete. Tenho muita confiança neles e eles em mim — conta.
Os conselhos e a amizade de Josiane não mudaram apenas o ambiente. Valcioni Lima, 42, saiu das ruas há três meses e acredita que a ajuda da margarida foi importante para isso. Ele continua trabalhando como guardador de carros, mas no fim do dia sempre volta para a casa. Há alguns anos, Josiane encontrou Valcioni chorando na rua. Ele estava devastado porque a filha não tinha fraldas para ir à escola. A margarida comprou um pacote e entregou ao ex-morador de rua, que hoje chama de amigo. E ele é grato a ela até hoje.
— Ela sempre me ajudou quando precisei e me deu conselhos. Vejo que o respeito que ela tem pelos moradores de rua fez com a gente entendesse que precisava manter tudo em ordem — conta Valcioni.
Continua depois da publicidade
Michele Rodrigues, gerente de Divisão Varrição Centro — Continente da Comcap, conta que Josiane é vista como exemplo pelos colegas. Segundo ela, são 100 funcionários que atuam na região central. A gerente percebeu que, ao oferecer ajuda, a auxiliar operacional conseguiu conscientizar os moradores em situação de rua.
O diretor da Comcap Carlos Alberto Martins disse que não há um programa voltado para que os funcionários ajudem a conscientizar os moradores, mas reforçou que Josiane é um exemplo a ser reconhecido. Para ele, muitos trabalhadores que varrem as ruas também não são vistos pela população, mas se esforçam diariamente para fazer um bom trabalho.

Como ajudar os moradores em situação de rua
Continua depois da publicidade
De acordo com a prefeitura, em maio o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (Icom) divulgará números atualizados de moradores em situação de rua. Em junho do ano passado, um levantamento mostrou que haviam 421 pessoas. Entidades voluntárias, como o Movimento Nacional da População de Rua, contestam os números oficiais e falam em até 700 pessoas vivendo em condições de vulnerabilidade em Florianópolis.
Abrigos
O Centro POP funciona nas dependências da Passarela de Samba Nego Quirido (Avenida Paulo Fontes, Centro) e atende mais de 100 pessoas por dia em situação de rua. No local são oferecidos banho, alimentação e acompanhamento psicológico tanto para pessoas que buscam espontaneamente o espaço ou vindas por meio da abordagem social, que identifica crianças, adolescentes e adultos em situação de rua e resolve as necessidades imediatas. Todo cidadão pode solicitar atendimento ao serviço de Abordagem Social ou orientar as pessoas que precisam desse auxílio a procurar o Centro POP pelo telefone 0800-6431407.
São cinco abrigos comandados pelo município em Florianópolis, sendo dois para adolescentes, um de mulheres vítimas de violência, dois de moradores em situação de rua e um albergue. Conveniados são 13 (oito de crianças, três de idosos, um de deficientes e um de moradores de rua). Para o inverno, segundo a prefeitura, serão feitas ações para retirar as pessoas das ruas e organizar um albergue provisório.
Continua depois da publicidade
Casos de crianças e adolescentes também podem ser encaminhamento pelos seguintes órgãos:
Conselho Tutelar Região Continental
Rua Marechal Câmara, 127 – Estreito, Florianópolis
Telefones: 3244-5691 / 3244-8010
Conselho Tutelar Região Insular
Rua Júlio Moura, 84, Centro, Florianópolis
Conselho Tutelar Região Norte
Rodovia SC 401, km 18, Condomínio Brasil, Florianópolis
Telefones: 3225-3564 / 3223-4340