O trânsito de Caracas, que já é caótico, infartou na quinta-feira. Por onde se tentasse circular – ainda que passando com o carro por cima das calçadas -, o motorista se via bloqueado por uma maré vermelha formada pelos fanáticos seguidores de Hugo Chávez.
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Para piorar a confusão, um dilúvio caiu sobre a capital venezuelana a partir das 18h, alagando as ruas e sufocando ainda mais qualquer tentativa de se locomover na metrópole de 3,9 milhões de habitantes.
Chávez joga nesse fim de semana sua maior cartada em 14 anos de governo. Continua popular, mas nunca sofreu uma oposição tão forte e gabaritada. Até por isso, dispensou os funcionários públicos (foi ponto facultativo) e providenciou ônibus grátis para quem quisesse afluir ao comício de encerramento da sua campanha para o terceiro mandato (possibilidade inexistente na maioria dos países democráticos).
Chávez, o breve
Os servidores compareceram, claro. Mas, muito mais do que eles, a multidão era composta de favelados que, sob o governo chavista, ganharam pela primeira vez um status. Jovens com boinas e bonés vermelhos, pilotando motos sem capacete, batendo tambores e cantarolando hinos formavam a maioria entre os apoiadores que lotaram mais de 10 quarteirões do centro de Caracas, entre as avenidas Bolívar, Universidad e Lecena. Moviam-se feito um rio, aos gritos pelas calçadas.
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Enquanto os chavistas tomavam o coração da capital venezuelana, o desafiador da hegemonia de Chávez, Henrique Capriles, reunia sua própria multidão em Lara, no estado central de Barquisimeto.
Chávez, o messiânico líder venezuelano, quase perde sua própria festa. O aguaceiro que inundou a capital atrasou sua chegada ao palanque. Talvez temendo pela sorte da frágil saúde do seu líder, o staff chavista deixou que El Comandante falasse apenas por 15 minutos. Frustrante para seguidores acostumados a cinco horas de discurso. Animador para os oposicionistas, que apostam: Chávez não tem saúde para um terceiro round no poder. As urnas darão a resposta, neste domingo.
*O repórter Humberto Trezzi é o enviado especial de Zero Hora para a cobertura das eleições presidenciais venezuelanas