O único som dentro do Fusca era o da chuva forte batendo na lataria. As duas amigas haviam enfrentado ruas alagadas para atravessar Florianópolis e o seu destino se aproximava. Na subida de um morro, tiveram de parar em um sinal vermelho. Ali, esperando a luz verde, uma delas achou melhor dar meia volta e deixar para outro dia o que iria fazer naquela terça- feira. Na barriga, carregava Marcos Piangers.
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A criança que quase foi abortada e cresceu sem a figura paterna (ou com a mãe fazendo os dois papéis) hoje tem 35 anos, é um dos comunicadores mais conhecidos do Sul do país e conta essa história na abertura do livro O Papai É Pop.
Lançamento do livro em Florianópolis
Radicado desde 2006 em Porto Alegre como um dos integrantes do programa Pretinho Básico, da Atlântida FM, o catarinense tem uma dupla do barulho em casa para inspirá-lo: as filhas Anita, de nove anos, e Aurora, de três. Elas são as protagonistas das 32 crônicas da obra, que no papel estão colhendo o mesmo sucesso que no Facebook, onde a maioria foi publicada. Segundo ele, a primeira edição já está quase esgotada e a segunda chega nesta semana às lojas.
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Em Santa Catarina, as sessões de lançamento começam no dia 15 de agosto (confira abaixo).
– O que o livro tenta celebrar é esse zeitgeist (espírito da época) de pais jovens mais presentes, mais atenciosos, mais dedicados. Nossa geração é bem mais brother dos filhos. E serve de aviso aos pais ausentes: vocês estão perdendo uma das experiências mais incríveis da existência humana. Cada segundo ao lado dos filhos é precioso – diz Piangers.
A seguir confira entrevista com Piangers:
Por mais leve que seja seu texto, você começa o livro falando de coisas bem sérias: o dia em que sua mãe foi abortá-lo e o pai que você não conheceu. Por quê?
Cara, eu tinha que explicar a ausência de um pai em todos os textos. Isso ajuda a dar contexto para eu não ter muita experiência para a coisa, muitas vezes não saber o que fazer em determinadas situações com as meninas, já que não tive exemplo. Aprendi a ser pai sendo. Há outra peculiaridade, que nunca contei publicamente: escrevi essa introdução sem saber quem era meu pai, já que a minha mãe (Eloisa Piangers) nunca tinha me contado. Por opção, ela não queria me dizer quem a tinha engravidado. Em março deste ano, ela descobriu um tumor. E resolveu não levar o segredo para o hipotético túmulo. Me contou toda a história, o cara simplesmente não quis me assumir, queria abortar. Foi f*. Meus avôs pararam de falar com a minha mãe, aquela coisa horrível e ao mesmo tempo tão comum. Então o livro virou uma missão: essa história tão comum, do cara que engravida e abandona, aconteceu com a minha mãe. Não quero que aconteça com minhas filhas.
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Ser pai de verdade é muito diferente do que você imaginava?
As pessoas tem essa visão romântica, né? Que o dia do nascimento do filho é mágico, o amor é incondicional. Eu não senti nada disso: achei o parto assustador, nervoso, eu preocupado com a minha mulher muito mais do que com a criança. Demora para se apaixonar pelo filho. Ele vai sobrevivendo, vai abrindo os olhos, vai sorrindo. E você vai se apaixonando. Não tem nada de mágico. Essas coisas, que todo mundo romantiza, eu aprendi na prática que são bem diferentes. As fotos no Instagram são todas bonitas, mas os momentos de refeição são todos bem feios e bagunçados. (risos) ?
Qual o retorno que você tem dessas crônicas? Alguma história especial o comoveu?
Velho, o meu pagamento são as histórias que eu ouço. Recebi um e-mail na semana passada de um cara que não conseguia ter filho com a esposa e adotou uma menina com uma série de problemas de saúde, aquela coisa totalmente altruísta. E agora conseguiu engravidar a esposa, imagina! E eu tô participando dessas histórias. Uma menina com depressão que leu o livro e voltou a falar com a família. Um pai que tinha se afastado da família, mães solteiras. Emoção pura.
Sua intenção é doar sua parte dos rendimentos do livro a instituições de caridade, certo?
Cara, não quero monetizar com as minhas filhas. Tenho meu trabalho, minhas coisas, ganho dinheiro com isso. Quero devolver o bem que elas me fazem escrevendo o livro, e devolver o bem que as pessoas que compram o livro me fazem doando a grana. Como sempre tem um cara desconfiado, dizendo que vou doar só para não pagar imposto de renda, que vou desviar a grana, que a instituição que eu escolhi pra doar não é idônea, vou repartir a grana entre várias instituições.
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Lançamento e sessão de autógrafos em SC
– Florianópolis: 15 de agosto, sábado, às 17h, na livraria Saraiva, do Beiramar Shopping
– Blumenau: 16 de agosto, domingo, às 17h, no Norte Shopping, local a definir
– Joinville: 29 de agosto, sábado, às 20h, nas Livrarias Catarinense, do Shopping Mueller
O livro
O Papai é Pop, De Marcos Piangers. Editora Belas Letras. 112 págs. R$ 31,90