Meu livro sobre paternidade está em quarto lugar entre os mais vendidos do Brasil. (Não me canso de falar isso. Estou todo bobo. Estou caminhando na rua e parando as pessoas, dizendo que escrevi um livro que é um dos mais vendidos do Brasil. Tiro crianças e velhinhas para dançar no meio da faixa de segurança. Esse é o nível da minha felicidade.)
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Quando falo que meu livro está em quarto lugar entre os mais vendidos do Brasil (viram? Falei de novo!), a primeira coisa que as pessoas me perguntam é: “Ficou rico?”. Bem, fiquei milionário. Estou com minha conta corrente abarrotada de histórias maravilhosas sobre crianças fofas. Tenho investimentos em pais atenciosos. Nunca recebi tantos dividendos e participação nos lucros dos carinhos familiares. O dinheiro do livro não me interessa.
O fato é que uma nota de R$ 50 tem um valor pra mim. Demorei muito para ver uma. Minha mãe sustentava a casa com salário de nutricionista, numa época em que ser nutricionista não era cool, como é hoje. Imaginem o auge do sucesso do McDonald?s, a nutricionista era apenas uma chata, apontando os possíveis males da batata-frita.
Pra uma mãe que sustenta uma casa sozinha, R$ 50 tem um valor imenso. São os mesmos R$ 50; pra mim vale algo, para uma mãe solteira vale algo mais algo. Pra uma instituição de caridade, que briga todo mês para comprar fraldas, esses R$ 50 têm mais valor ainda. A mesma nota de R$ 50: tem um valor pra mim, outro valor pra instituição e outro valor para um milionário. Para o milionário vale quase nada.
Não escrevi o livro pra ganhar dinheiro. Se ele render R$ 1 milhão – dinheiro que imagino que nunca terei -, vou doar R$ 1 milhão. Me sentiria a pessoa mais feliz do mundo de fazer isso. Se eu doar R$ 10 milhões, R$ 1 bilhão. Serei a pessoa mais feliz do mundo. O livro terá encontrado seu sentido. Minha paternidade vai ter ainda mais significado.
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Uma menina com problemas de depressão me escreveu, esses dias, dizendo que leu o livro e sentiu novamente vontade de viver. Um pai me contou que sente falta de segurar a mão da filha, que cresceu. Uma mulher que não conseguia engravidar adotou uma criança com deficiência e, como milagre, agora está grávida. Um jovem pai, que tinha abandonado o filho, decidiu tentar ser um pai de verdade depois de ler o livro.
Meu livro está em quarto lugar entre os mais vendidos do Brasil. Não fiquei rico, mas me sinto milionário.