Uma coletânea de poesias esquecida na lanchonete onde trabalhava despertou Marco Vasques para a literatura. Sem conseguir localizar o dono e devolver, ficou com o volume de autoria do francês Paul Éluard. Ele, que “nem livros tinha em casa”, passou a ser leitor voraz, escritor, crítico de teatro e, neste mês de junho, lança cinco obras inéditas.
Continua depois da publicidade
> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
Vasques nasceu em 1º de janeiro de 1974 numa visita da família aos parentes do pai, de Estância Velha (RS). Registrado em terra gaúcha, considera-se catarinense de Imbituba, cidade da mãe e onde os pais viviam. Cresceu no sítio do avô materno, agricultor e pescador. O pai morreu em um acidente de carro quando ele tinha um ano. A mãe, que não havia frequentado escola e nem sido alfabetizada, passou a ser a única responsável pelo sustento e educação dos quatro filhos pequenos.
> Raul Caldas Filho se dedica a livro de memórias
Nos anos 1980, mudaram para Joinville, polo industrial do Estado, com mais oportunidades de trabalho. Vasques tinha 10 anos. Começou a vender picolés e tapetes costurados pela mãe com retalhos descartados pela indústria têxtil. Teve empregos diversos, como balconista de uma lanchonete na rodoviária e operário em fábricas.
Continua depois da publicidade
> Escritor de SC é eleito para a Academia Brasileira de Letras
Ser escritor nunca esteve no horizonte durante a infância e adolescência quando precisou ajudar a sustentar a família. O contato com a literatura havia sido somente no colégio. Mas, a partir das poesias de Paul Éluard, começou a “recuperar o tempo perdido”. Devorou o livro do francês e mais coleções inteiras de Carlos Drummond, Graciliano Ramos, Machado de Assis, entre outros grandes escritores.
Aos 28 anos, o primeiro livro dele, “Cão no Claustro”, foi lançado em Florianópolis, onde passou a viver. Observou na coletânea de poemas a necessidade de melhorar a linguagem, estudo deixado de lado na escola quando se dedicava mais ao trabalho. Apesar de o autor considerar “irregular”, essa obra foi a confirmação de que havia encontrado na literatura a maneira de existir no mundo. Das imagens, cheiros e ambientes cotidianos extrai questões essenciais do ser humano, que expressa nos textos.

Acumula 20 títulos publicados. Em lançamento, estão “Verde, Amarelo, Azul e Branco”, reunindo contos com a temática da pandemia da Covid; “Valdir Rocha – O Construtor de Enigmas” e “A Artesania Tipográfica de Cleber Teixeira” (escrito com Denize Gonzaga). Outros dois volumes inéditos são “Fazer o Teatro”, em parceria com Rubens da Cunha, apresentando entrevistas com atrizes catarinenses. Neste domingo, dia 26, às 18h, tem sessão de autógrafos na Associação Joinvilense de Teatro.
A relação com o teatro começou como ator, sonoplasta, diretor e à frente de algumas montagens. Cursou Filosofia na UFSC e seguiu com o doutorado em Teatro. Mas foi escrevendo que encontrou o caminho na dramaturgia. Atualmente, é editor do Caixa de Pont[o] – jornal brasileiro de teatro e apresentador de um programa cultural na web. Também colaborou em periódicos.
Continua depois da publicidade
> Saiba mais sobre a história de outros grandes escritores catarinenses
Vasques vive o desafio de “tirar a cultura da condição de supérfluo num país onde falta o básico a milhões de pessoas. Precisamos alimentar o espírito, pensar em vivências, não apenas em sobrevivência”, diz.
*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
Leia também:
> Conheça a vida e a obra do escritor catarinense Adolfo Boss Junior
> Como a “fome” de leitura criou um grande escritor em Santa Catarina
> Como Franklin Cascaes trabalhou o imaginário coletivo de Florianópolis e região
> Sylvio Back, o “doutor honoris causa” da cultura em SC
> Quem é Godofredo de Oliveira Neto, o escritor que mescla literatura com história