Terminada a manifestação na frente do Palácio Piratini, a maioria dos manifestantes seguiu pela Avenida Duque de Caxias rumo ao Largo Zumbi dos Palmares (Epatur), onde seria o término do ato. Essa não era a intenção das gangues de adolescentes e anarquistas infiltradas no movimento. Eles formaram outra passeata e desceram pela Avenida João Pessoa, rumo ao bairro Cidade Baixa, destruíndo tudo que encontravam pela frente.
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Esse grupo de desgarrados foi encorpado por outros manifestantes que haviam entrado em confronto com as tropas da Brigada Militar (BM). Logo no início da Avenida João Pessoa, os manifestantes já somavam mais de mil pessoas. Aos gritos de “quebra tudo”, desceram pela João Pessoa rumo à Avenida Ipiranga. Ocupavam as duas pistas. Alguns chutavam portas dos prédios.
Um homem, aparentando uns 35 anos, ameaçava os moradores.
– Vai encarar? – disse a um senhor que estava na porta de um prédio, cujos vidros ele tinha quebrado com pedradas.
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Os condutores de veículos que passavam pelo local também foram atacados. Um coletivo também virou alvo, mas o motorista acelerou e conseguiu escapar. Um taxista foi parado por um jovem, que gritou:
– Tio, vem lutar com a gente.
O taxista fez um sinal obsceno com um dos dedos, acelerou e fugiu. Vários veículos estacionados tiveram seus vidros quebrados e os pertences dos proprietários furtados. Logo depois que a passeata passou o Viaduto Imperatriz Dona Leopoldina, as gangues que estavam à frente da manifestação começaram a correr e atirar pedras nos prédios e veículos.
Parecia que os manifestantes haviam tomado conta da Cidade Baixa, bairro boêmio de Porto Alegre. Minutos depois, ouviu-se o primeiro estouro: eram as tropas da BM, Cavalaria, Pelotão de Choque, motociclistas e vários carros-patrulha que vinham descendo a João Pessoa, atirando bombas de gás e marchando. Os manifestantes começaram a correr. Pararam, em seguida, e falaram palavrões para os brigadianos.
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Foi quando surgiu outra tropa da BM, logo à frente, e começou a avançar rumo à passeata. Cercados pelos dois lados, os manifestantes correram. Uma pequena parte fugiu para o interior da Redenção. A maioria escapou para as ruas José do Patrocínio e Lima e Silva, o coração da Cidade Baixa.
As tropas da BM se dividiram em vários grupos e seguiram no encalço dos manifestantes. Que, na fuga, destruíam carros e quebravam vidraças. Para atrapalhar o deslocamento dos PMs, viraram os contêineres de lixo no meio da rua.
– Bando de piá louco – reclamou um senhor parado na calçada.
Na Lima e Silva, vários manifestantes se misturaram aos frequentadores dos bares. Um se atreveu a xingar policiais que passavam pela frente. Um dos soldados fez sinal com o dedo chamando o jovem para rua – que desapareceu dentro do estabelecimento.
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Nas horas seguintes, os soldados e os manifestantes tiveram se enfrentaram em várias escaramuças pelas ruelas da Cidade Baixa. No final, um dos manifestantes passou por um grupo de soldados e disparou uma provocação:
– Segunda tem mais.