A marcenaria e a construção civil ainda são áreas ocupadas majoritariamente por homens. Porém, aos poucos, essa realidade está mudando com a ascensão das mulheres no setor e no mundo do empreendedorismo. Scheyla Claudiano, de 33 anos, faz parte deste percentual feminino que está derrubando barreiras e enfrentando o preconceito para mostrar que lugar de mulher também é na construção de móveis e casas.
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Ela tem 10 anos de experiência como pedreira e há dois entrou para o negócio da marcenaria e já abriu sua própria empresa, a Schreiber Marcenaria, que fica em Palhoça. A história dela é tão inspiradora que foi escolhida como uma das finalistas do concurso Hora de Brilhar, da Unilever, que incentiva e reconhece mulheres empreendedoras de todo o Brasil.
— Nós perdemos a vergonha, o medo de empreender. Gosto de ver mulheres motoristas de ônibus, de Uber, pedreiras, e o objetivo do concurso é nos empoderar. É muito legal incentiva-la — diz.
Mas quem vê Scheyla com um sorriso largo sem conseguir se conter de tanta felicidade, nem imagina quanta coisa ela precisou enfrentar. A filha mais nova de dona Alice Comicholi, 61, se formou em Direito graças a bolsa de 100% do Prouni. Na época da faculdade, com seus 20 e poucos anos, a família não tinha dinheiro para quase nada, muito menos para a reforma da casa que era tão necessária. Scheyla decidiu que ela mesma faria o serviço.
Aos poucos, foi colocando piso, construiu um muro e tantos outros reparos que uma reforma pede. A iniciativa deu tão certo que a vizinhança começou a contratar os trabalhos dela e isso ajudou, e muito, na renda familiar.
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Quando concluiu a graduação, Scheyla lembra até hoje da decepção que teve ao concorrer à primeira vaga no Direito.
— Me ofereceram 800 reais para trabalhar o mês inteiro, isso depois de estudar cinco anos na faculdade. Aí eu falei: ‘Isso aí eu ganho por dia’. Foi quando decidi ficar na construção civil — conta.
Foram 10 anos trabalhando como pedreira, até que por causa de uma alergia ao cimento precisou largar a profissão há dois anos. Ao perceber que adorava mexer com móveis, caixarias, esquadrias, e sabia que era boa nisso, decidiu virar marceneira.
Apostando em móveis sob medida

A ideia já estava formada na cabeça, mas ainda precisava de um empurrãozinho para ser executada. E isso não demorou a acontecer. Já casada com Mônica Schreiber, 35, foi durante uma reforma na casa delas que Scheyla conheceu o marceneiro que virou sócio da empresa. Ela investiu na compra de todo o maquinário necessário, alugou um galpão no bairro São Sebastião e abriu a Schreiber Marcenaria. Ele ficou com a função de atrair clientes e ensinar na montagem dos móveis. Nos primeiros três meses nada aconteceu. O sócio acabou saindo do negócio e Scheyla teve que seguir sozinha.
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Sozinha não, nessa época, Mônica entrou na empresa e a irmã Schirley Claudiano, 41, também, para ajudar na administração, financeiro e construção dos projetos.
— Eu não sabia nada, nem como vender um móvel, mas não desisti. Para cumprir o prazo de entrega do meu primeiro cliente, trabalhei 48 horas seguidas e cheguei a cortar os dedos na máquina de serra, fui ao pronto-socorro e voltei para terminar a encomenda — relata.
Mãe deu o "empurrãozinho" que faltava

Porém, mesmo com todas as ferramentas e a técnica para trabalhar, o mercado de clientes não estava promissor. Scheyla observou a necessidade das pessoas de baixa renda e começou a fazer móveis simples, só que de qualidade. A mãe, sua melhor vendedora, brinca ela, foi quem ajudou a divulgar o serviço da filha para os próprios vizinhos.
— Ela me ajudou vendendo o serviço no prédio onde morava. Foi daí que surgiu a ideia de vender para pessoas que não tinham muito dinheiro, mas que precisavam de móveis de qualidade — conta.
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Há um ano, ela conseguiu, também com a ajuda da mãe, a comprar o próprio galpão no bairro Jardim Eldorado. É de lá que saem os móveis, que são transportados pelo fusca chamado carinhosamente de Meg e chegam até a residência ou escritório de seus clientes, que hoje já são muitos.
— Eu estou feliz porque as coisas tomaram uma proporção muito grande. Quando começamos não tínhamos nenhum cliente, não tínhamos nada, eu não tinha nem como mostrar o meu serviço para ninguém, e hoje estou recebendo muitos pedidos, não sei nem o que vou fazer, mas vou dar conta — diz em meio a risos de emoção. No último mês a empresa precisou contratar um funcionário e um jovem-aprendiz.
Reconhecimento

Durante sua trajetória, ela precisou lidar com o preconceito, que já criou, inclusive, situações constrangedoras.
— As clientes mulheres sempre adoraram a ideia, nunca tiveram preconceito comigo, mas clientes homens e, principalmente funcionários, não tinham respeito por mim porque eu era mulher. Isso na marcenaria, na construção nem preciso falar como era há 14 anos. Já sofri assédio inclusive com meus fornecedores.
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Esse caminho trilhado e seu trabalho estão sendo reconhecidos. Ela é finalista do concurso Hora de Brilhar, da Unilever. Quem descobriu o concurso foi a irmã. Schirley conta que, na verdade, se inscreveu para assistir algumas aulas de empreendedorismo e, por meio desta inscrição, soube do concurso.
— Como eu não me encaixava na proposta do concurso, eu pensei na minha irmã, que é empreendedora. Fiz a inscrição dela, mas achei que não ia dar em nada — conta.
Foram mais de duas mil inscrições e Scheyla ficou entre as 50 pré-selecionadas. Na segunda etapa precisou gravar um vídeo falando sobre o seu trabalho e passou para a etapa seguinte: disputar o prêmio com outras quatro finalistas na categoria atuante. No dia 6 de maio, ela vai para São Paulo participar da final.
Para Scheyla, a participação no concurso tem o objetivo também de incentivar outras mulheres a empreenderem e serem mais independentes.
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