O Brasil teme as autoridades, mas não as admira. Os Estados Unidos idolatram as autoridades, mas não as temem. Outros países simplesmente as ignoram.

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No Brasil, políticos eleitos viram sócios do clube do cafezinho de graça e passam a se tratar por Vossa Excelência, mesmo em frases do tipo: “Vossa Excelência é um canalha”. Faz parte da liturgia.

“Vossa Excelência” representa status, poder e, no fim, significa o seguinte: sou mais importante que você. Nos Estados Unidos, a autoridade não impõe medo, mas é venerada em filmes com presidentes que destroem o inimigo, salvam seu país e de resto o planeta. Aqui, um roteiro em que Temer enfrentasse alienígenas viraria piada.

Mas tem um grupo de países, e não são poucos, em que a autoridade é só uma pessoa comum exercendo uma função na qual representa parcela significativa da sociedade para garantir segurança, saúde e educação. E essa autoridade pode andar de ônibus, de bicicleta e a pé. Mais: pode ser chamada simplesmente de você. Como se não bastasse, essa autoridade ainda paga pelo próprio cafezinho que toma.

Por isso, a suntuosidade do nosso “Vossa Excelência” não combina com a frugalidade do cafezinho gratuito na repartição. Abolir ambos é um sinal simplório, mas relevante, que poderia emergir das urnas no domingo como um singelo compromisso simbólico para mudar nossa política disfuncional.

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