Falar em inovação na política é mais clichê que chamar eleição de festa da democracia.
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Tipo “pensar fora da caixa”. Todo mundo hoje tem que pensar fora da caixa. Não há seminários por aí no estilo: “Vem pensar dentro da caixa e achar aquela solução simples que requer algum esforço, mas não é lá muito criativa”.
Alguns candidatos a prefeito passaram a adotar o vocabulário de empreendedores de palco para convencer seus eleitores de que em breve todos viveremos na supercidade do futuro com que sempre sonhamos.
Ao longo desses anos em que o esgoto segue seu livre curso para o mar, as cidades já foram sustentáveis, depois viraram criativas e agora são inteligentes. É bacana viver em uma cidade inteligente.
Os ônibus em Florianópolis não têm ar-condicionado, andam lotados, às vezes param sem aviso, mas existe um ponto de ônibus na cidade com grama no teto e carregador para o celular. Um ponto de ônibus inteligente!
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Precisávamos disso. Até para nos tirar da zona de conforto, aquele maldito lugar onde só ficam os folgados nesse mundo ultraconectado em que até o poder público cria soluções arrojadas como esta outra, alardeada há quatro anos pela prefeitura da Capital:
“Sobrevoar Florianópolis, visitar obras e lugares que sequer existem (!!!) ou conhecer as unidades de saúde e de educação municipais em apenas um toque. Essas são algumas das possibilidades à disposição dos visitantes do Floripa Interativa: projetando o futuro, no Sapiens Parque”.
Ou seja, o cidadão tinha de pegar um Canasvieiras lotado (sem ar-condicionado) até o norte da ilha para mexer numa espécie de Google Earth gigante, com o objetivo de conhecer lugares que “sequer existem” e provavelmente nunca vão existir. Uma cidade inteligente!
Inovar é essencial e fomenta a economia de Florianópolis e de Santa Catarina. Mas na gestão pública, às vezes, uma boa inovação consiste em ligar o ar-condicionado do ônibus e deixar que as pessoas vivam alguns momentos tranquilos dentro da sua zona de conforto.
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