O problema do Brasil não se resolve neste domingo.
Não conte com isso.
Apertar o botão verde da urna é um exercício de cidadania, mas não nos alça a um novo patamar político.
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A eleição não termina na tecla confirma. O barulhinho da urna vai confirmar, além de seu voto, um sistema imperfeito de escolha de candidatos, que remonta à redemocratização e se agravou nos últimos meses com normas que incentivam fraudes e dificultam sua fiscalização, como a proibição de doações empresariais e o incentivo a doações de pessoas num país cuja população não tem tradição de financiar candidaturas.
A democracia que o brasileiro vai exercitar no domingo se limita a optar por nomes pré-selecionados por dirigentes partidários que impõem candidatos sem prévias (na maioria), levando muito menos em conta ideologia ou propostas do que acordos para planos políticos futuros.
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O domingo também marca o esperado encontro dos idealistas de Facebook com o pragmatismo da política nua, crua e despudorada, em que ideais são super bacanas, mas votos são mais legais, sabe.
A polarização do país desde 2014 deu espaço para o avanço pé ante pé de propostas marotas que não despertaram a fúria mútua nas redes sociais. Nem teria por quê, diante de memes divertidos opondo coxinhas e petralhas. Fomos debochados e raivosos, desfizemos amizades e não percebemos que o fruto dessa divisão foi o descuido com a ética e a justiça política, dois pontos que unem ambos os lados, mas não estiveram no centro da reforma política que regula essa campanha.
Vamos às urnas participar de eleições proporcionais assentadas numa base de candidatos a vereadores sem expressão, usados para transferir votos àqueles (nem todos) que deram mais valor ao pão com salsicha entre simpatizantes do que à discussão do futuro para a cidade. Vamos às urnas numa eleição majoritária que, onde há emissora, o tempo de TV faz a diferença e cria a promiscuidade da cooptação de partidos que se vendem por cargos e por dinheiro.
A eleição deste domingo, na verdade, começa depois de apertar o botão confirma. Há mais coisas em comum entre os adversários das redes sociais do que o ódio cego permite notar. Se os ânimos esfriassem, talvez uma maioria silenciosa se unisse a um movimento conjunto para cobrar uma reforma política que realmente faça sentido para 2018.
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