Dono da maior votação no primeiro turno em Joinville, o prefeito Udo Döhler (PMDB) acredita que sua campanha só não terminou vitoriosa no último dia 2 porque a participação de oito candidatos promoveu uma dispersão de votos. Udo reconhece que engrossou as críticas ao governo do Estado e, como consequência, tem falado menos com Raimundo Colombo. Ao contrário das eleições de 2012, quando falava em 300 quilômetros de asfalto, desta vez Udo prefere não anunciar metas específicas de pavimentação.

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QUEM É

Atual prefeito de Joinville, tem 73 anos e uma carreira política iniciada apenas em 2011, quando se filiou ao PMDB. Advogado de formação, fez nome em Joinville como empresário do ramo têxtil, liderando a presidência da Associação Empresarial de Joinville (Acij) em cinco oportunidades. Esteve também à frente do conselho deliberativo do Hospital Dona Helena. Tem como vice Nelson Coelho (PMDB).

O que faltou para conseguir a maioria dos votos necessários para vencer no primeiro turno?

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Não faltou nada. A eleição no primeiro turno envolveu oito candidatos. Se o número fosse menor, essa eleição já teria se resolvido no primeiro turno. Como foram oito, isto acabou propiciando uma dispersão de votos. O segundo turno não é uma nova eleição. É o segundo tempo do primeiro turno. Nesse segundo tempo vamos ter oportunidade de mostrar ainda mais as obras que realizamos, detalhar nossas propostas. 

Após o fim do primeiro turno, o senhor não saiu em busca de apoio. Qual o motivo?

Tivemos dois cuidados. O primeiro foi elaborar nossa proposta para a próxima gestão. Fizemos ao longo de seis meses, envolvemos milhares de pessoas. Em função dessa proposta, construímos nossa coligação. E esta coligação não trouxe nenhuma novidade maior em relação à coligação da eleição anterior. Definimos qual poderia ser nossa participação na Câmara de Vereadores e isto aconteceu dentro daquilo que havíamos previsto. Nossa coligação elegeu o número de candidatos que esperávamos. Isto nos dá tranquilidade para a próxima gestão. Por isto descartamos qualquer mudança em relação à coligação.

O senhor considera positiva a renovação na Câmara?

Muito. Tínhamos um vereador (Maycon Cesar, PSDB) que anunciava que era oposição ao prefeito. Mas não era oposição ao prefeito, era oposição à cidade. Dificultou o andamento de muitos projetos nossos. Isto, inclusive, ensejou que ele não se reelegesse. Houve uma renovação importante. Dentro da nossa coligação, tivemos surpresas agradáveis. O vereador mais votado em Santa Catarina está dentro do nosso partido, o PMDB (Fernando Krelling fez 10.523 votos em Joinville, mas Pedrão, do PP, alcançou inéditos 11.197 votos na Capital). Essa votação nos surpreendeu e também é resultado da atuação desse candidato, que foi nosso secretário da Fundação de Esportes. 

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Fernando Krelling (ex-presidente da Felej) e Roque Mattei (ex-secretário da Educação) serão aproveitados pelo governo ou ficam na Câmara?

Tanto o Fernando como o Roque lograram essa votação pelo bom desempenho deles em nossa gestão. Quando o Krelling chegou na Felej, tínhamos 1,3 mil pessoas no programa de iniciação esportiva. Demos oportunidades e, já no primeiro ano, se transformou em 3 mil. No segundo ano, 6 mil. Esse ano estamos com 8 mil crianças. Isto foi percebido pelas famílias. A educação fundamental sempre foi boa em Joinville. Mas, quando chegamos, encontramos 19 escolas interditadas. Desinterditamos as 19 de um total de 148 escolas. Tinha escola com risco de o teto cair, sem ar-condicionado. Reformamos 112 delas. Hoje todas estão climatizadas. Isto tudo fez com que o Roque conseguisse essa expressiva votação.

O senhor tem planos para eles?

Acho que o Roque tem condições de ajudar ainda mais no Executivo, mas ele agora é vereador. A opção é dele. Se desejar, pode continuar na Câmara. Do contrário, tem espaço na Educação. O Fernando Krelling, da mesma forma, como vereador está na Câmara. Mas tem espaço no Executivo imediatamente. Queremos avançar ainda mais, com a experiência do Roque ou não. Mas ele deixou ali uma boa equipe.

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Sem o vereador Maycon Cesar (PSDB, não se reelegeu), o senhor ainda terá pedra no sapato na Câmara?

Não. Isto desapareceu. O Maycon Cesar foi oposição à cidade, não ao prefeito. O fato de ele ter batido no prefeito, acabou perdendo votos.

Com a saída do vereador Adilson Mariano (PSOL, não se reelegeu) falta uma figura identificada com a esquerda. O debate perde com isso?

Acho que não. Se nós olharmos, o vereador Lioilson, que era do PMDB, migrou para o PSC e foi reeleito. Temos no Lioilson alguém muito identificado com essa linha, essa conduta progressista.

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A marca da sua campanha é “mãos limpas”. Não acha inusitado que ser mãos limpas pareça um diferencial?

Mãos limpas continua sendo nossa marca. Não é um recurso de efeito, é uma mudança de conduta. Toda nossa gestão é permeada por isso. A retidão, caráter, é um cuidado que temos quando selecionamos nosso colegiado. Quem não se ajustou à nossa forma de governar acabou sendo substituído. Essa mudança vai, seguramente, propiciar a renovação no quadro político. O clientelismo toma conta do país, isso é odioso. Mãos limpas continuará sendo nossa marca, não tivemos nenhuma licitação anulada.

O senhor é discreto quanto à doção de salário, mas simpatizantes da sua campanha têm trazido isto à tona na campanha. Acha coerente?

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É uma decisão que tomamos antes de assumir a prefeitura, declaramos em cartório. Trabalhei cedo, desde os 14 anos. Chegou o momento em que percebi que era o momento de ajudar a cidade. Não motivado pelo salário de prefeito, por isso abri mão. Não posso renunciar ao salário. Eu recebo e, como pessoa física, entrego a duas instituições de promoção social. Já são mais de 60 instituições. Não divulgamos para que não se transformasse em interesse eleitoreiro. Naturalmente, alguém acabou descobrindo porque fui obrigado a entregar minha declaração de imposto de renda. Lá estão listadas todas as doações que fiz.

A campanha tem sido marcada por críticas mais duras ao Estado. Sua relação com o governador Colombo fica desgastada?

O governo do Estado também passa por dificuldades. Sempre tive um bom relacionamento com o governador. Ultimamente tenho falado menos, mesmo porque nossas cobranças ficaram mais fortes. Se a situação do Estado é difícil, a do município é muito mais. O Estado não comparece em Joinville como deveria. Temos um hospital municipal em Joinville. Florianópolis, Itajaí, Lages, Chapecó não tem. Temos hospitais do Estado – maternidade, Regional, Infantil – mas isto é pouco. O governo do Estado se esquece que Joinville é a cidade mais importante do Estado. Se temos 700 policiais militares, e já tivemos 1,2 mil, e na Capital o contingente é o dobro de Joinville, isto é um equívoco.

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Que papel terá seu vice, o tenente-coronel Nelson Coelho, no seu governo?

O escolhemos porque a segurança, que não era, passou a ser prioridade na próxima gestão. O comandante Coelho tem larga experiência na segurança, mais de 30 anos. Então ele vai nos ajudar muito para que possamos melhorar as condições de segurança na cidade. Na hora em que se pegar o contraventor, bandido, traficante e entregá-lo para a Polícia Militar, não tem saída. Vamos fazer o que com ele? Soltar? O clamor popular é instantâneo. Nosso contingente da Guarda Municipal é insuficiente. Com a reeleição, já no próximo ano vamos licitar o aumento da nossa Guarda. E aí sim teremos esse efetivo para dar uma contribuição importante e aumentar a segurança. 

Se fosse preciso, o senhor diria que ele tem o perfil para administrar a cidade?

O comandante Coelho é muito competente. Tivemos um cuidado muito grande em ter alguém que reunisse condições de cuidar da cidade. Mesmo porque ninguém está livre de ser atropelado de um dia para o outro. Seria um descuido muito grande contarmos com um vice-prefeito apenas para se buscar votos. O Coelho é muito importante enquanto cuidar da área da segurança, mas ele reúne todas as condições de ajudar Joinville. 

Há cerca de 700 quilômetros a serem pavimentados. O senhor se compromete em cobrir algum percentual?

Quando chegamos na prefeitura, tínhamos a proposta de governo que era avançar largamente com a pavimentação. Tivemos duas surpresas. A primeira é que encontramos a prefeitura muito endividada. Ninguém podia antever a crise. Essa crise começou a se desenhar em 2013, caiu forte em 2014 e se aprofundou em 2015. Tivemos que traçar prioridades. Dobramos o número de vagas nas creches. Em um ano todas as escolas estavam climatizadas. 

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Hoje o senhor prefere não antecipar uma meta?

Temos meta. Vamos avançar. Porque hoje as finanças do município estão em dia. Na educação, estamos com os problemas 100% resolvidos. Na saúde precisamos avançar um pouquinho. Vai nos sobrar fôlego para avançar com a pavimentação. De certa forma, já vem acontecendo. Se olhar para a infraestrutura, dobramos a rede de esgoto em quatro anos. Assumimos com 17% de esgoto na cidade, hoje temos 34%. Não se pode pavimentar nenhuma rua sem esgoto. Avançamos fortemente na canalização de águas pluviais. A rede de água foi ampliada, em parte renovada. É investimento invisível, não dá para enxergar, fica debaixo da terra.