Banheiros interditados, mau cheiro, sensação de insegurança e problemas de acessibilidade são queixas frequentes dos usuários da Estação Rodoviária Harold Nielson, de Joinville. Inaugurada há 43 anos e reformada no início dos anos 2000 pelo ex-prefeito Luiz Henrique da Silveira, quando o espaço foi todo remodelado, ela é a principal rota de embarque e desembarque para 70 mil pessoas todos os meses.
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O jornal ¿A Notícia¿ visitou o terminal rodoviário da mais populosa cidade de SC para conhecer as demandas que fazem parte da rotina de passageiros e de funcionários. Morador de Jaraguá do Sul há 17 anos, o caminhoneiro Gelson Baseggio é um dos usuários da rodoviária. Ele a usa como rota para as viagens que faz a trabalho.
Para Gelson, na comparação com outras cidades de grande porte, como São Paulo, a rodoviária de Joinville não reflete a estrutura que deveria ter o terminal.
– Por ser uma cidade tão grande, a situação é ruim, a começar pelos banheiros, que estão precários. Em Jaraguá, que tem a população bem menor, há um terminal melhor – disse.
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Relatos de problemas envolvendo a manutenção dos banheiros, principal reclamação dos usuários, foram confirmados por funcionários. Segundo eles, há infiltrações no teto e pelo menos cinco cabines estão interditadas por causa de problemas de vazamento ou de entupimento dos sanitários.
Trancas danificadas são fechadas com cordas improvisadas, há pichações nas paredes e alguns boxes não têm portas ou assentos nas privadas. Um dos sanitários interditados é o destinado a portadores de necessidades especiais.A precariedade dos banheiros faz com que alguns passageiros evitem utilizá-los. É o caso de Verônica Zurman, de Curitiba.
– As pessoas aqui comentam que a situação dos banheiros é precária e que há muito público. Eu evito de ir por medo, por falta coragem – relatou a passageira.
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Conforme uma das faxineiras do local, o problema dos entupimentos começou há cerca de três meses e houve aumento do mau cheiro vindo dos banheiros.
– Às vezes, é insuportável (o cheiro) e tem muita reclamação. Precisamos aumentar o número de vezes que limpamos o chão e gastamos mais produtos para tirar o odor – disse ela, sem se identificar.
Os profissionais da rodoviária afirmam que, para melhorar a situação, seria importante aumentar o número de efetivo e a disponibilidade dos materiais utilizados na limpeza. No período noturno, em que ocorre maior demanda, são apenas três pessoas responsáveis pela limpeza do terminal. Elas reclamam que a máquina que auxilia na lavagem do piso está quebrada, causando demora na limpeza. Também não há máquina para lavar os panos sujos.
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– Alguns dos utensílios, como rodos e toalhas, às vezes, são levados de casa. É como se estivéssemos pagando para trabalhar – contou outro funcionário, que também preferiu não se identificar.
O esforço, porém, é reconhecido por usuários. Para Isonete dos Santos, 61 anos, que utilizou os banheiros, o local estava limpo. A curitibana Danuza Sloboda, que esteve na cidade pela primeira vez, também viu o banheiro limpo.
Serviço de limpeza é terceirizado, diz Prefeitura
De acordo com a Prefeitura de Joinville, que administra a rodoviária por meio da Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), o serviço de limpeza ocorre normalmente e é feito por uma empresa terceirizada. Ainda segundo a Prefeitura, a empresa contratada utiliza material próprio para realizar os serviços.
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Outra funcionária, que trabalha há mais de dez anos no local e também não quis se identificar, confirma que a manutenção e a limpeza são feitas com frequência, mas que, na maioria das vezes, os próprios usuários acabam danificando as dependências do terminal.
– Reformaram os banheiros há menos de dois anos, a gente percebe que fazem a manutenção. Só que arrumam de dia, chega à noite já levaram toalheiras, saboneteiras e até a pia de um dos banheiros. Com os azulejos, a mesma coisa, tudo arrancado. O que precisa é uma fiscalização melhor que impeça essas ações – afirma.
A reforma citada por ela foi entregue em novembro de 2015 e custou cerca de R$ 300 mil, segundo o Instituto de Previdência Social dos Servidores Públicos do Município de Joinville (Ipreville), dono do imóvel.
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Conforme a entidade, a manutenção dos banheiros após a reforma é responsabilidade da Prefeitura, que aluga o espaço por R$ 121 mil mensais. Conforme a administração municipal, os banheiros interditados irão passar por nova manutenção de reparo, mas ainda não há previsão de reativação.
Já as ações de fiscalização do terminal são realizadas por meio de rondas da Guarda Municipal, segundo a Prefeitura. Os agentes mantêm um posto no local e fazem rondas nos três períodos do dia. Para os usuários e atendentes da rodoviária, porém, a sensação de insegurança ainda é uma queixa bastante comum.
Uma das reclamações é a falta de um controle de entrada e saída de pessoas e dos ônibus. A situação gera desconforto. Atendentes que trabalham nos guichês de atendimento da rodoviária contam que à noite não há policiamento efetivo e que os clientes preferem pagar mais caro por passagens compradas na internet. Um dos motivos é o medo de frequentar a estação rodoviária.
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– Esses dias, por volta das 19h, houve uma queda de energia e não temos geradores. Ficou um breu e não se via nada. Não havia um guarda para garantir segurança, e situações assim aumentam a sensação de medo – comentou um atendente que trabalha no local há mais de dez anos.
Modelo ideal de terminal rodoviário
– O aspecto físico do terminal pode impactar de forma positiva ou negativa e influencia na forma como as pessoas veem a cidade. Nesse sentido, Joinville merece uma porta de entrada que represente sua importância nos diferentes cenários em que ela se destaca.
A avaliação é da arquiteta e urbanista Renata Cavion, que também é professora de projeto e operação de terminais de transporte da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ela acredita que não exista um modelo pronto de rodoviária e cada projeto deve analisar condições próprias do local de implantação.
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Essa avaliação, diz Renata, permite que o terminal atenda melhor às demandas projetadas.Um bom exemplo é o Terminal Multimodal de Campinas, inaugurado em 2008. O espaço foi construído já considerando recomendações que antes não eram exigidas, como as normas de acessibilidade da ABNT.
Conforme ela, por serem construções antigas, os principais terminais rodoviários do Estado, de Joinville e de Florianópolis, inaugurados nas décadas de 1970 e 1980, ainda enfrentam dificuldades para se adequarem às exigências.
– Esses terminais sofrem hoje com a necessidade de revisão de sua infraestrutura para atender a essas novas demandas, sejam elas de acessibilidade, segurança, conforto, de tecnologia e também de responsabilidade ambiental.
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Com relação à rodoviária de Joinville, Renata elenca alguns pontos essenciais que podem ser reavaliados, tanto de infraestrutura, quanto operacionais. A arquiteta também lista indicações de melhorias paliativas que visam a melhorar as condições de funcionamento da rodoviária.
Pontos para serem revistos ou executados
— Aumento do espaço destinado aos guichês para compra de passagens (as filas em horários de pico prejudicam a circulação de pessoas nas calçadas).
— Adequação do dimensionamento das áreas do terminal para comportar o aumento natural do fluxo de pessoas a longo prazo e permitir o acesso de todos.
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— Melhorar a conexão do terminal rodoviário com os pontos importantes da cidade (como os terminais urbanos dos bairros, o aeroporto e os pontos turísticos, por exemplo).
— Firmar parcerias entre o setor público e privado, viabilizando a manutenção preventiva e periódica da edificação e garantindo a segurança física da construção.
Ações paliativas sugeridas
— Reforma da cobertura.
— Instalação de sistema eletrônico de informações sobre chegadas e partidas.
— Substituição da iluminação e parte elétrica.
— Pintura completa e restauração de revestimentos.
— Rever a pavimentação das vias em volta da rodoviária.
— Remodelação hidráulica e de esgoto.
Acessibilidade é questionada por usuários
A acessibilidade também é questionada, tanto pelas condições das vias de acesso dos veículos que transitam pela região, quanto por deficientes físicos que utilizam os serviços do terminal. As ruas de paralelepípedo costumam provocar trepidações que podem causar estragos nos carros e incomodam moradores das proximidades.
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Um funcionário com mais de uma década de serviços na rodoviária disse que ao longo dos 40 anos pouca coisa mudou em questões estruturais.
– A rodoviária de Joinville está ultrapassada. Até o acesso dos ônibus no terminal é vergonhoso. Como o prédio é alugado, dificilmente alguém vai investir aqui. Mesmo para uma cidade do tamanho de Joinville, podia ser construída uma rodoviária menor, mas com uma estrutura melhor – disse ele, sem se identificar.
Alterações que tornem o espaço mais adequado também são defendidas pelo especialista em acessibilidade Mário Cézar da Silveira, membro do Comitê Brasileiro de Acessibilidade. Segundo ele, para deficientes físicos, a rodoviária ainda não atende, em sua totalidade, ao que prevê a lei nº 13.146/2015, de inclusão da pessoa com deficiência.
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A rampa de acesso para cadeirantes, no segundo piso, onde está a praça de alimentação, não condiz totalmente com as novas recomendações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ele diz que, com a última reforma feita nos banheiros do terminal, uma ação positiva foi a instalação de um banheiro para ostomizados.
Ainda assim, são apontadas falhas pontuais, como a falta de recursos que atendam a deficientes visuais e auditivos. As salas vip e de espera também não possuem lugares para portadores de deficiência e cadeirantes.
– Um destaque positivo são os balcões com altura reduzida, que atendem à demanda de compra e venda de passagens para quem precisa do serviço. Mas a maior demanda envolve a falta de um equipamento que auxilie no embarque e desembarque de portadores de deficiência entre os ônibus e as plataformas – explica.
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O presidente do Ipreville, Sergio Miers, diz que está sendo feito um projeto que prevê reformas profundas na estrutura do prédio de acordo com as exigências da ABNT. A obra deve custar entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões e irá priorizar as melhorias de acessibilidade, rede elétrica e hidráulica e cobertura. A expectativa é de que a obra inicie em 2018 e seja concluída em dois anos.