Um dos pensadores mais influentes do mundo, Manuell Castells esteve em Florianópolis esta semana para ministrar uma aula magna em comemoração ao aniversário de 50 anos da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). As obras do sociólogo espanhol são referência na discussão das transformações sociais provocadas pelas novas tecnologias no fim do século 20 e no início do século 21. Castells concedeu uma entrevista na sede do Grupo RBS em Santa Catarina. Confira o que ele disse sobre modelos de negócio, publicidade e privacidade na internet.

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Nesta semana, alguns jornais e empresas jornalísticas começaram a publicar seus conteúdos diretamente na plataforma do Facebook. Esse tipo de modelo de negócio pode ser sustentável?

O jornalismo digital é o realmente responde à necessidade informativa da sociedade, mas não funciona como modelo de negócio, porque não se ganha dinheiro. Nenhum jornal online do mundo ganha dinheiro, com exceção do Wall Street Journal, que é um jornal profissional. A ideia, por exemplo, de fechar a informação de um jornal e cobrar R$ 1 para disponibilizá-la não funciona, porque as pessoas procuram outro jornal.

O modelo de negócio que seguem as empresas de internet, Google em primeiro lugar, é que nós temos acesso livre à informação e comunicação mas pagamos com os dados das nossas vidas. Há um acordo implícito: você utiliza meus serviços e eu pego os seus dados, empacoto e vendo para a publicidade. Cerca de 90% dos ingressos do Google vêm de venda à publicidade. O que vendem? Nossos dados, para fazer marketing enfocado a cada uma das pessoas.

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Com isso, o problema de que não há mais privacidade no mundo depende de duas coisas: de que os governos nos vigiam a todos, mas, ainda mais importante, é que as empresas de internet necessariamente têm que romper nossa privacidade porque só assim podem subsistir como modelo de negócio. Um mundo em que dependemos de informações proporcionadas por empresas de internet e podemos usar, sem pagar, o Facebook, Google, Yahoo, é um mundo que temos que pagar com os dados das nossas vidas.

O algoritmo do Facebook faz com que o usuário veja somente conteúdos que lhe interessam em sua timeline. Isso pode fazer com que as pessoas fiquem encerradas em seus mundos ideológicos, deixando de receber informações que as desafiem, gerando intolerância?

O grande problema de encerrar-se em espaços de comunicação pré-determinados por afinidade é que você nunca sabe o que se passa em outro mundo, nunca sabe o que passa além dos seus amigos e acaba acreditando que o mundo é o “seu mundo”. Então os outros mundos se tornam “alienígenas”, e a raiz da violência em que os outros não são como eu, não são humanos, são extraterrestres. Estamos construindo minicomunidades do que somos e renegando que não é, como se fossem extraterrestres. E você só pode matar quando é outra espécie.

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