Uma jovem brasileira em 1973 toma uma condução para ir ao trabalho numa cidade grande qualquer. As dificuldades de mobilidade urbana, de vida agreste e difícil a acompanham. O veículo quebra, ela busca um meio para comunicar o atraso ao chefe imediato, mas a cidade padece sem telefones públicos e igualmente sem um transporte coletivo eficiente e acessível ao seu bolso. Nos anos 80, a moça – agora uma adulta mãe de família – continua acompanhando as dificuldades das metrópoles e de um mundo cada vez mais urbano. Nas décadas seguintes, ela viverá plenamente os momentos de esgarçamento social acompanhando notícias produzidas pela comunicação urbana no sofá de casa ou na rua, munida de um celular inteligente, um tablet ou outro dispositivo. Atordoada, pensará: o que é essa virtualização da vida? O que de fato nos mantém conectados? A revolução estaria nas ruas e “passaria” na TV? Cidadania é consumo – tecnológico e/ou de informação?

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Essa síntese precária de uma vida comum aqui apresentada representa, em larga medida, os temas que envolvem a obra de Manuel Castells, o sociólogo espanhol chamado pela Udesc para realização da aula magna de 50 anos. Ele tem uma vasta produção implicada diretamente em fenômenos do urbano e suas comunicações. Seu primeiro livro publicado no Brasil em 1983, cuja primeira edição foi realizada ainda em 1973, trata exatamente dessa questão. Uma obra seminal, de inspiração e vínculo marxista, na qual o autor assumidamente coloca a problemática urbana como fundamental às nossas sociedades.

Castells, diferentemente de alguns intelectuais, sempre foi coerente em suas escolhas e perspectivas, nunca esperou que esquecêssemos o que escreveu – pelo contrário, nos convidou gentilmente a acompanhar as transformações de sua escrita, que caminham ligadas às mudanças do próprio mundo. Sendo assim, a partir da década de 80 e até o momento, seus escritos se ampliam e se complexificam na mesma intensidade da compressão tempo- espaço moderna, materializada na comunicação urbana.

O sociológo é autor de uma trilogia fundante nas humanidades – A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, composta pelos volumes A Sociedade em Rede, O Poder da Identidade e Fim de Milênio. Nesses ensaia ideias e reflexões acerca de um planeta em que cidades e pessoas de todos os continentes vivem conectadas em rede, produzindo sentidos valorativos globais.

Desde os anos 80 Castells se concentrou em analisar o papel das novas tecnologias de informação e comunicação na reestruturação econômica mundial. Investiu esforços na discussão do chamado capitalismo informacional. Aponta com propriedade as conquistas e os limites da expressão cunhada por ele como “tecnomeritocracia”.

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Seu mais recente trabalho, Redes de Indignação e Esperança: Movimentos Sociais na Era da Internet, problematiza a cidadania espetacularizada nas ações políticas contemporâneas, que colocam aos movimentos sociais o desafio de organização sob novas formas. Para Castells, os instrumentos teóricos não têm fronteiras históricas nem geográficas. A vermos nessa sua aula magna articulada aos 50 anos da Udesc.

Agende-se

O quê: aula magna com Manuel Castells, em comemoração aos 50 anos da Udesc Quando: dia 14, às 20h

Onde: Teatro Pedro Ivo (Rod. SC-401, Km 5, 4.600, Saco Grande, Florianópolis)

Quanto: a Udesc sorteará 550 ingressos, sendo 300 para a comunidade acadêmica (alunos e servidores) e 250 para a comunidade externa. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no site www.udesc.br/manuelcastells até sexta-feira, às 19h